Também não tinha intenção de voltar à novela dos suecos. Mas depois do comunicado do PS divulgado no
Efervescente algumas coisas devem ser ditas em resposta aos pontos abordados.
Começava por dizer o óbvio. Em todo o processo de instalação do IKEA em Portugal nunca se falou publicamente em 3 fábricas, mas sim numa fábrica. Pelo menos, nunca transpareceu em termos públicos outro tipo de proposta. Afinal parece que aquilo que transparecia publicamente não era bem o que se passava a nível de bastidores. E agora que a novela acabou a própria câmara de Estarreja também poderá dar conta da proposta que recebeu a esse nível. Segundo o Presidente da Câmara hoje no
Diário de Aveiro o negócio era o seguinte:
Questionado sobre o processo IKEA e sobre as dúvidas levantadas pela concelhia socialista, José Eduardo de Matos responde que «não é verdade» que a Câmara de Estarreja tivesse o processo dos terrenos do Parque Industrial em atraso. O autarca explica que o calendário de prazos do IKEA apontava para que em Junho de 2007 a primeira fábrica estivesse pronta (era preciso uma área de 30 mil metros quadrados). A fábrica seguinte estaria pronta em Janeiro de 2008 e a terceira e última construção ficaria terminada em Setembro daquele ano. «Esta última é que necessitaria de 130 mil metros quadrados de área, num total de 260 mil metros quadrados. O que nós fizemos para responder a esta primeira pretensão foi uma operação de loteamento, em Agosto, de uma área total 175 mil a 821 metros quadrados. Depois, para o pólo C precisaríamos de mais 260 mil metros quadrados que adquiriríamos no prazo de um ano. E para todos os investimentos sucessivos do IKEA haveria uma correspondência», garante José Eduardo de Matos. O edil refere que as afirmações do PS são infundadas, alegando que Estarreja era o «único» concelho que tinha terrenos próprios disponíveis. O responsável estarrejense revela que a Câmara convidou os vereadores do Partido Socialista acompanhar a autarquia na deslocação à Polónia para ajudarem e acompanharem todo o processo de candidatura. «Recusaram vir e agora vem falar sobre matérias que não querem conhecer». José Eduardo de Matos sublinha que o próprio IKEA caracterizou o projecto estarrejense como um programa de «grande qualidade» e sugere que o PS questione o IKEA sobre a proposta apresentada pela Câmara de Estarreja.
Outro ponto que importa esclarecer é que nenhuma das câmaras envolvidas ia dar terrenos de graça ao IKEA. Nem Paços de Ferreira. Aliás, Paços de Ferreira nem sequer tem ainda os terrenos para dar. Portanto, notícias que levantam esse tipo de hipótese não são obviamente fiáveis.
O que seria interessante saber neste processo é por quanto a câmara de Paços de Ferreira vai vender os terrenos da REN? Que tipo de incentivos ofereceu ao IKEA? E quais as verdadeiras razões que levaram de facto o IKEA a escolher Paços de Ferreira? E isto não saiu em nenhum jornal, nem em nenhuma notícia.
Tal como o PS de Estarreja (que parece estar bem informado sobre a situação dos terrenos no Ecoparque), o IKEA sabia perfeitamente o que Estarreja tinha para oferecer e qual a situação dos terrenos do parque. E tanto sabia que achou interessante a hipótese de Estarreja para a localização do investimento e nunca negou que Estarreja tinha condições atractivas.
No entanto, acabou como se sabe por escolher Paços de Ferreira. Para mim, não é clara a razão porque o fez. Aliás, ninguém neste momento (tirando o IKEA, a câmara de Paços de Ferreira e o governo) sabe as verdadeiras razões da escolha. Ora perante este cenário nebuloso, a única coisa que podemos fazer é especular. E é isso que o PS local faz, pois não sabe as razões que estiveram por trás da escolha do IKEA. Como todos nós, não acompanhou o processo negocial, nem teve acesso a informação previligiada para dizer o que diz. Limita-se apenas a pegar em notícias de jornais e a comentá-las, acrescentando um bocadinho de especulação política à mistura. Já não fala do ministro Manuel Pinho que meteu Estarreja na rota dos grandes investimentos. É pena que se tenha esquecido tão depressa de um ministro tão bom.
No entanto, não preciso de ter acesso ao dossier do negócio para saber uma coisa óbvia. Paços de Ferreira não tem ainda um único terreno legal para oferecer ao IKEA. Vai ter que os desanexar da REN, vai ter que os comprar e legalizar em nome da câmara para depois os vender. Escusado será dizer que seguindo os trâmites legais tudo isto vai demorar o seu tempo. Portanto, vamos ver quando é que o IKEA terá terrenos para instalar a 1ª fábrica?
Portanto, não foi por causa da situação legal dos terrenos que o IKEA escolheu Paços de Ferreira em detrimento de Estarreja ou de Paredes, pois é evidente que em Paços de Ferreira não existem ainda terrenos para coisa nenhuma.
As razões são obviamente outras e estão embrulhadas no “pacote” que Paços de Ferreira ofereceu ao IKEA. E é pena que não sejam do conhecimento público para se perceber porque razão uma câmara que nem sequer tinha terrenos para construir um barracão ganhou um investimento para 3 fábricas?
Quanto ao resto da especulação a gente percebe o sentido. Como o IKEA não veio para cá a culpa é do Presidente da Câmara. Mas se o IKEA tivesse vindo o mérito era do governo e do PS local que deu início ao levantamento cadastral do ecoparque, ao projecto da obra e ao concurso adjudicação com obra acabada daí a 18 meses. Mas já não vale a pena falar aqui desta última parte da história. Já a contei no passado diversas vezes. Já toda a gente a conhece.