segunda-feira, abril 25, 2005
Todos os anos os recados são sempre os mesmos. Todos os anos assinalamos o feriado como a data mais importante da nossa democracia. Mas todos os anos ficamos enfiados em casa ou então vamos passear sem que o acontecimento tenha qualquer relevância na nossa vida pública ou privada a não ser o facto de ser feriado e de não fazermos nenhum. Mesmo nas escolas pouco se fala do 25 do Abril e a memória do acontecimento nas gerações mais novas vai ficando cada vez mais baça.

A História sempre foi uma dor de cabeça nas escolas. Já no meu tempo o nº de negativas era elevado na disciplina e parece que hoje continua. Ou seja, temos gerações sucessivas de alunos para quem a História sempre foi uma seca e uma coisa para esquecer. Tudo isto somado ao facto de muitas vezes o assunto não ser abordado na disciplina criou na sociedade uma ignorância enorme sobre o antes e depois do 25 de Abril. Quem não viveu a ditadura já não sabe como foi e mesmo quem viveu, assimilou apenas o que interessava ao Estado Novo, ou seja, assimilou uma sociedade disciplinada com mecanismos de regulação e de censura que permitiam apenas uma expressão reduzida do cidadão, que não se devia imiscuir nos assuntos da Nação.

Daí que ainda hoje se ouve nos mais velhos a expressão do que “o Salazar é que era bom” ou que “faz falta é outro Salazar para endireitar isto”. É espantoso que o digam, mas é um sinal claro do grau de domesticação social e política que dominava toda a sociedade com algumas bolsas de resistência ali e acolá. Nesse tempo, não se via mais longe do que a ponta do nariz e a vida estava reduzida ao essencial, ou seja, comer, dormir, trabalhar e pouco mais. A cultura e a ciência eram coisas estranhas e a política uma área perigosa que se devia evitar a todo o custo.

Por outro lado, as hierarquizações da sociedade eram enormes e as reverências também. As elites detentoras do conhecimento ou do capital económico tinham um poder enorme sobre as classes mais pobres ou iletradas. Um título de doutor dava de imediato ascensão social e prestígio público. E os ricos tinham uma influência considerável em qualquer sector. Isto desde que não afrontassem o estado ou o poder político vigente, pois se o fizessem arriscavam muita coisa (faz lembrar um pouco a Rússia dos tempos actuais).
Ora, o 25 de Abril foi uma revolução para mudar todo este estado de coisas. Todavia, em muitos aspectos não cumpriu os seus objectivos. As antigas inércias, os vícios, as burocracias, a iletracia, a falta de cultura democrática, não desapareceram por causa de uma simples revolução. Continuaram presentes embora disfarçadas pela mudança política para a democracia. E é isto que o 25 de Abril nos devia lembrar. Que o país, embora tenha mudado muito no seu espaço físico, continua imerso em esquemas mentais arcaicos e antigos. E não é fácil fugir a isso.
 
posted by Jose Matos at 21:26
segunda-feira, abril 18, 2005
A entrevista que Luís Nobre Guedes deu ontem ao “Diga Lá Excelência” e saiu hoje reproduzida no Público. Concordo praticamente com tudo o que disse. Percebeu porque a maioria perdeu as eleições, percebeu o que correu mal e tem também ideias claras a respeito do futuro do PP. Vale a pena ler a entrevista.
 
posted by Jose Matos at 19:41
Daqui a um mês quando forem anunciados os nomes dos candidatos do PSD às juntas de freguesia, os críticos de serviço vão dizer que os candidatos são sempre os mesmos e que não há renovação nem novidades nos nomes anunciados. E nós como é óbvio vamos dizer que são os melhores, ou seja, os disponíveis e com ambição para ser. É claro que nestas coisas, o que eu gostava mesmo de ver era os críticos assumirem candidaturas fossem elas partidárias ou independentes. É que criticar é fácil, mas dar a cara é sempre mais difícil. O mesmo acontece a nível da câmara. Os críticos dizem que tudo está mal seja na coligação seja mesmo no PS. Mas porque não se assumem e avançam para uma candidatura independente? Há quem não goste dos partidos e está obviamente no seu direito de não gostar, mas a nível autárquico não é preciso um partido para concorrer à câmara ou a uma junta. Qualquer um pode fazer uma lista e um projecto e avançar.

Mas o que sempre me espantou neste nosso pequeno Portugal foi que fora dos partidos nunca houve projectos nem candidaturas para Estarreja. Nem mesmo nas juntas, tirando algum caso pontual provocado por zangas partidárias. Ou seja, fora dos partidos não há espaço público de discussão. Não há espaço público de ideias. E não há porque simplesmente não há qualquer tradição de discussão fora do espaço partidário. E quando há é fulanizado neste ou naquele ou em pequenas minhoquices e não em projectos de acção. E isso nota-se muito mesmo nos ataques ao poder vigente. Muitas das críticas são personalizadas no presidente da câmara e nas suas qualidades e defeitos pessoais e não na política desenvolvida pelo executivo. Mas mesmo dentro dos partidos, o espaço de discussão e a circulação de ideias é reduzida. Quantos se deram ao trabalho como o PSD em 2001, de fazer um projecto como o Mudar Estarreja e de apresentá-lo de terra em terra? Que eu me lembre ninguém.

Daí que iniciativas recentes como aquela que o Rotary de Estarreja levou a cabo a propósito do ambiente são bem-vindas e representam um espaço público de discussão fora do espectro partidário. Mas era bom que outros seguissem o exemplo e que noutras áreas existisse também devir de ideias e de projectos.
 
posted by Jose Matos at 19:37
Dentro de 30 dias, os partidos no nosso concelho terão escolhido os seus candidatos para as autarquias. Não se esperam grandes surpresas, mas valerá a pena na altura analisar os nomes. Quem está no poder vai tentar obviamente obter os mesmos resultados de 2001 e até mesmo melhorar a perfomance eleitoral. Quem está na oposição vai tentar sobreviver e evitar ser levado na enxurrada. É claro que alguns teóricos destas coisas pensam que o resultado que o PS teve no concelho nas últimas legislativas tem alguma relevância nas autárquicas. Mas quem pensa isso só pode estar a sonhar, pois uma coisa não tem nada a ver com outra. Os eleitores sabem bem distinguir uma coisa da outra. E sabem também que o principal partido na oposição não tem um projecto para Estarreja. Nem para Estarreja nem para as 7 freguesias do concelho. Aliás, calculo mesmo que venha a ter problemas em arranjar candidatos em algumas delas. Mas como é que o PS chegou a este ponto?

Bem, penso que depois da saída da câmara, o PS ficou à deriva e caiu mesmo numa dormência e numa letargia que não permitiu uma renovação. Como já escrevi em tempos, o que o PS devia ter feito era o que o PSD fez em 1993-97. Arranjar um novo candidato que trouxesse um corte com o passado e renovar o partido. Ora o PS não fez nada disso. A sombra de Vladimiro Silva continuou a pairar sobre o partido e chegou-se mesmo ao erro de permitir que fosse novamente candidato com o resultado que toda a gente conhece. Mas não foi só aqui que o PS perdeu. A nível das freguesias também não houve um trabalho de fundo no sentido de captar novas pessoas que pudessem ajudar o partido. E também não houve um trabalho de reflexão no sentido de desenvolver um projecto alternativo para Estarreja. Sei que fazer tudo isto não era fácil, mas para um partido que tinha e tem pretensões a ser poder era um trabalho de casa que devia ser feito. Agora é demasiado tarde. A 6 meses das eleições, não resta outra coisa ao PS senão aguentar e esperar que não lhe aconteça um desastre eleitoral.
 
posted by Jose Matos at 19:34
Embora com algum atraso, algumas notas sobre os últimos desenvolvimentos no PSD, principalmente os resultados do Congresso.

Marques Mendes – Como era de esperar foi eleito embora não com uma esmagadora maioria sobre o outro candidato. Mas o partido votou bem nele, pois trata-se de um homem com sentido de estado, trabalhador e com uma longa experiência de governo e também alguma de oposição. Vai ter que unir o partido em torno dele para os combates que se avizinham e ele sabe que isso não é fácil. O partido está cheio de grupos e grupinhos e Mendes vai ter que dizer a esta gente que o partido tem agora que remar toda na mesma direcção. Tem dois combates importantes pela frente, autárquicas e presidenciais. Nas últimas espera por Cavaco, mas nas autárquicas vai ter que escolher bem, pois há muita coisa em jogo.

António Borges – Saiu bem do congresso e é uma esperança no futuro do partido. Saiu de Pombal com vontade de continuar a intervir e isso significa que vai estar atento ao futuro do partido. Será uma reserva estratégica caso as coisas falhem com Mendes.

Santana Lopes – Igual a si próprio. Um homem convencido que é um injustiçado, uma vítima, agarrado ao partido e incapaz de se afastar. Esteve mal, mesmo muito mal. Devia ter saído discretamente de cena. Mas não preferiu ficar. Na câmara de Lisboa está a fazer o mesmo. Agarrado até ao último momento ao pouco poder que tem, ao único lugar que lhe dá alguma visibilidade.

Cavaco Silva – Embora ausente foi um vencedor. Como eu já tinha escrito em tempos, o partido vai perdoar-lhe tudo porque quando cheira a vitória tudo se esquece e se perdoa.

Menezes – Teve um resultado acima de todas as expectativas. Um resultado que é um péssimo sinal dentro do partido. Quem votou nele não percebeu aquilo que aconteceu nas urnas no dia 20 de Fevereiro. Quem votou nele continua a achar que o PSD estava bem no poder e que Santana Lopes foi injustamente demitido pelo Presidente da República. Porque Menezes é e seria uma continuação de Lopes. A votação que teve dá-lhe ânimo para o futuro. O que é um péssimo sinal para o futuro do partido.
 
posted by Jose Matos at 19:32
sexta-feira, abril 15, 2005
A ler com atenção esta notícia. Aconteceu com o apoio de uma câmara deste país.
 
posted by Jose Matos at 19:42
segunda-feira, abril 11, 2005
No meu tempo não era nada disto e é espantoso como tudo mudou e que eu e outros estejamos vivos para contar a história. No meu tempo os carros não tinham cinto de segurança, nem airbags, nem protecções activas, nem os bebés viajavam em cadeiras, nem os menores de 12 anos iam no banco de trás. A malta andava de motorizada sem capacete e de bicicleta a mesma coisa. As quedas eram frequentes e as pernas partidas também. Os brinquedos eram de plástico e outras coisas duvidosas cheias de tóxicos. Bebíamos água da torneira e dos rios e não água mineral engarrafa. No Verão, tomávamos banho no campo em água suja, tão suja que o cabelo ficava pior do que se tivesse gel. Fazíamos carros de rolamentos para andar na estrada e nos montes escorregávamos com cascas de eucalipto por grandes ladeiras. Víamos cobras ali e acolá. As pulgas quando nos mordiam nem se sentiam. E as vespas e as abelhas eram, por vezes, nossas companheiras. Fazíamos combates de laranjas e até de pedras e cabeças partidas era habtiual. Fumávamos bonho das esteiras, embora não desse grande resultado. Brincávamos no meio da terra e do pó e comíamos muitas vezes sem lavar as mãos. Subíamos e saltávamos das árvores e até mesmo dos cavanais. Brincávamos no meio da palha seca e ninguém se queixava de alergias. Não havia telemóveis e ninguém sabia onde estávamos. Nem computadores, nem gameboys. Comíamos doces carregados de açúcar, bolos, gelados, pão com manteiga e marmelada e ninguém se queixava de obesidade. Bebíamos vinho, laranjada, gasosa, branco com gasosa, aguardente com café para a constipação e ninguém se queixava do álcool. Andávamos quilómetros com os amigos, íamos jogar à bola para o campo, percorríamos os montes. Por vezes, íamos aos pardais com armas de pressão de ar ou com ratoeiras. E no Carnaval era frequente mandarmos bombas. Na escola reprovava-se na 1ª classe e poucos chegavam ao 10º ano e ninguém morria por isso nem era preciso currículos alternativos nem visitas ao psicólogo. Era assim no meu tempo. E é espantoso que a gente tenha sobrevivido a tudo isto. É espantoso estarmos cá hoje para contar a história. Mas era este o nosso pequeno Portugal.

 
posted by Jose Matos at 21:33
O Gabinete de Atendimento ao Munícipe (GAM) ganhou finalmente forma a veio trazer um ar de modernidade à câmara. Visitei-o hoje pela primeira vez e está a anos-luz do que existia.
 
posted by Jose Matos at 21:04
Todas as câmaras como a nossa possuem um arquivo municipal composto por milhares de documentos que relatam a história do município ao longo do tempo, no nosso caso desde o século XIX. Ora qualquer historiador que quisesse fazer a história do nosso município devia ter esse arquivo disponível e em condições de ser consultado. A verdade é que até hoje ninguém se importou com isso. O arquivo está votado ao abandono numas estantes e numa cave à espera que alguém o organize. E é espantoso que durante estes anos todos ninguém se tenha preocupado com isso, ou seja, em preservar e organizar a memória do município. Finalmente vai ser organizado e ter um lugar digno na câmara de forma a poder ser consultado.
 
posted by Jose Matos at 21:01
sexta-feira, abril 08, 2005
O PS tem finalmente candidato. Vamos ter uma campanha serena e ainda bem. A entrevista que deu ao Jornal da Ria mostra isso. Um candidato sereno. A ideia que apresenta no final da entrevista de termos em Estarreja um pólo da universidade não é má ideia, não senhor. Só que está mal expressa. Um departamento da UA em Estarreja? A universidade não faz deslocalização de departamentos. A única coisa que podia fazer era criar um curso de nível IV em parceria com a segundária de Estarreja na área da química de forma a termos quadros técnicos de outro nível. O nível IV corresponde ao 12º ano + 1 e permite formar técnicos mais habilitados em diversas áreas do saber. Aqui fica a ideia registada.
Mas este tipo de afirmações mostra que o candidato em questão ainda não está bem preparado. Tem que estudar melhor as coisas, tem que preparar-se o mais breve possível com ideias e projectos alternativos para Estarreja. Sei que depois do Verão há-de apresentar um programa. Sei que há-de ter uma equipa com ele e sei que acredita que mesmo em terreno adverso pode ter um resultado honroso livrando o partido do desastre total. Mas o risco que corre de perder por muitos é elevado e vamos ver se consegue evitar isso. É que nos últimos 4 anos a coligação construiu pacientemente a sua vitória e vai lutar para que essa vitória seja esmagadora. E é bom que o candidato do PS não se esqueça disto, pois corre riscos elevados nas próximas eleições.
 
posted by Jose Matos at 21:20
Vamos ver como vai correr o congresso do PSD este fim-de-semana.
 
posted by Jose Matos at 21:11
sábado, abril 02, 2005
Ainda me lembro daquele dia distante em 1978, em que um penacho de fumo branco saiu pela chaminé anunciando um novo papa ao mundo. Guardo na memória o fumo e o homem que veio do Leste. Foi um corredor infatigável. Soube estar no seu tempo e resistiu até ao fim, mesmo doente e cansado. Foi um bom pastor. Guardaremos a memória dele.
 
posted by Jose Matos at 21:53
É com um certo gosto que vou vendo em português jornais como “Le Monde Diplomatique” ou agora o “Courrier International”. Em 1975, já tinha havido uma edição portuguesa do “Le Monde Diplomatique”, então uma iniciativa da editora D. Quixote e de Snu Abecassis. A actual edição nasceu de uma ideia de Jorge Araújo (editor da Campo das Letras) e de Edgar Correia, ex-dirigente do PCP e membro dos Renovadores Comunistas. Foi assim que surgiu a Campo da Comunicação, tendo como editor Jorge Araújo, que publica o jornal. Quanto ao “Courrier International”, o número zero sai hoje com o Expresso, com uma tiragem de 180 mil exemplares. O lançamento formal é na próxima semana com uma conferência de António Guterres sobre a reforma das Nações Unidas na Culturgest. O primeiro número estará nas bancas no dia 8 deste mês. O jornal, dirigido por Fernando Madrinha, vai ter cerca de 85% do conteúdo semanal da edição francesa. O restante constitui-se de informação e análise nacional.

Ora tudo isto é interessante para nós, pois durante muito tempo quem queria ler notícias ou análises sobre problemáticas internacionais tinha que ler em francês ou inglês. A publicação de versões portuguesas de jornais de referência é agradável e é bem capaz de cativar um maior número de leitores. Não quer dizer que sejam o que melhor se publica na área. Mas são realmente jornais que vale a pena ler, dado do âmbito que abordam e os autores que escrevem nos mesmos. De vez em quando leio, embora não seja um leitor habitual. Tenho outras coisas para ler todos os meses, mas sempre que posso leio alguma coisa.

Mas fiquei mais agradado com a saída recente em França da revista “DSI” do mesmo grupo editorial que publica a revista “Diplomatie” (bimestral) também recente em França. São duas revistas muito interessantes e a DSI surge agora para analisar mais as questões de Segurança e Defesa. A revista está à venda em Portugal e qualquer um pode comprá-la e avaliar o que estou a dizer. E esta sim, valia a pena ser traduzida para português. Aqui fica a sugestão.
 
posted by Jose Matos at 20:53