quinta-feira, outubro 28, 2004
Chegou até mim um comunicado do Grupo Radical Socialista (GRS), onde afirmam que tomaram como refém o vereador Vladimiro Silva. Parece assim que o seu afastamento da corrida à câmara se deve a acção de um grupo terrorista de esquerda, que exige um pequeno resgaste para a sua libertação. Infelizemente, o valor escrito no comunicado não é legível, daí que não consiga perceber bem qual é a quantia exigida, nem porque motivos foi executado o rapto. Se houver alguém corajoso no PS, que possa ajudar neste caso é favor contactar com o referido grupo. Na folha que me enviaram não deixaram contacto, mas estou convencido que não devem ser difíceis de encontrar.

 
posted by Jose Matos at 02:21
segunda-feira, outubro 25, 2004
Com as investigações que o PS tem desenvolvido para descobrir desvios na vida das pessoas do executivo camarário é natural que a vida do Presidente da Câmara já tenha sido investigada a fundo. Como não encontraram nada é natural que nunca tenha saído nada cá para fora a esse respeito. No entanto, penso que a investigação foi mal conduzida, pois se tivessem investigado a fundo tinham descoberto algumas coisas interessantes. Em primeiro lugar, que o nosso presidente quando era jovem estudante desviou três caramelos de uma loja cujo dono preferiu o anonimato. O comerciante em questão (que já passou a loja há muito tempo) disse-me que tem a certeza que foi ele, embora não tenha provas, pois os caramelos que eram o elemento de prova foram parar à barriga do nosso presidente. No entanto, compreende a brincadeira e disse-me que naquele tempo era muito comum a malta desviar caramelos. Coisas de miúdos. Mas bem pior que os caramelos foram as granadas de mão, que o nosso presidente desviou quando andava na tropa. Fonte militar garantiu-me que foi ele o autor da façanha, embora até hoje não tenham conseguido determinar como é que ele teve acesso ao paiol de armamento. Mas parece que conseguiu tirar uma caixa delas e que as escondeu em parte incerta estando ainda em condições de uso. É natural que nunca as tenha usado até hoje, mas parece certo que tem sido tentado ultimamente a usar algumas na oposição, que insiste em tentar descobrir comportamentos desviantes nos membros do executivo. Esperemos que mantenha a calma e que diga finalmente às autoridades onde escondeu a caixa, pois trata-se de material de guerra que não pode andar por aí sujeito a cair nas mãos erradas. É claro que se um dia destes acontecer por aí alguma explosão, depois não venham dizer que eu não vos avisei.
 
posted by Jose Matos at 13:46
Durão Barroso sempre teve um grande apreço pelo seu ministro Carlos Tavares. Penso mesmo que seria um dos seus ministros preferidos e que o ouvia com atenção. O convite que lhe fez para presidente do Grupo de Conselheiros Políticos da sua comissão confirma essa preferência. É um cargo importante aquele que Carlos Tavares irá ocupar. Esperemos, no entanto, que não lhe roube muito tempo para Estarreja e que possa manter a sua ligação à terra.
 
posted by Jose Matos at 13:44
Passados 100 dias de governo, a primeira conclusão que tiro é que Santana Lopes não estava preparado para ser primeiro-ministro, muito menos Presidente da República como ele queria. A súbita ida de Durão Barroso para Bruxelas pegou toda a gente de surpresa, mas principalmente Santana Lopes que não estava minimamente preparado para assumir tais funções. Depois a sua tendência para falar demais tem provocado agitações escusadas e medidas erráticas que podiam bem ser evitadas caso o primeiro-ministro fosse mais contido e não tivesse tendência para falar de coisas que domina mal. O caso da deslocalização dos ministérios (que depois ficou só em secretarias de estado), a caso do fecho da refinaria da Galp em Matosinhos, a questão da GNR no Iraque, as taxas moderadoras na Saúde, o processo de colocação de professores, o caso da baixa do IRS e mais recentemente a ideia de pôr os professores de horário zero a servir de acessores a juízes, são imprudências que podiam ser evitadas caso houvesse uma certa contenção na fala e nas entrevistas que dá. Mostram também falta de coordenação entre ele e os seus ministros, mas mostram também que não há ainda um programa coerente de acção no governo e que este ainda anda ao sabor das prioridades sectoriais de cada ministro. Em 100 dias de governo, isto já não devia acontecer, mas quando não estamos preparado para governar é um dos riscos que se corre. Era bom por isso que Santana Lopes moderasse o seu estilo e falasse apenas daquilo que conhece bem e fosse capaz de liderar e coordenar os seus ministros de forma ao governo agir como um todo. Não perdi ainda esperança nisso, pois sei que uma pessoa mal preparada pode sempre acabar por superar as suas limitações e fazer um bom papel no lugar que ocupa. Esperemos para bem de todos, que Santana Lopes seja capaz disso. Esperemos que não nos deixe ficar mal.
 
posted by Jose Matos at 13:42
Na passada Sexta-feira, o ministro da Agricultura, Pescas e Florestas, Costa Neves, esteve em Aveiro para inaugurar um porto de abrigo para a pequena pesca, que os pescadores já usavam desde o início deste ano. Não sei quem terá tido a ideia de pôr o ministro a inaugurar uma coisa que já funciona há 10 meses, mas quem a teve, não teve lá grande ideia. Mas pior foi o discurso do ministro. Era natural que falasse da importância da obra para a pesca artesanal, do futuro novo porto de abrigo em São Jacinto e por cortesia fizesse um elogio ao presidente da câmara de Ílhavo (coisa que até fez em abundância). É isto que compete a um ministro das pescas que vem inaugurar uma obra destas. Agora centrar o discurso em elogios ao primeiro-ministro e no apelo ao voto no referendo europeu é um pouco anormal. Em primeiro lugar, disse que chamar a Santana Lopes populista era uma injustiça porque afinal de contas ele tinha aproximado o governo das pessoas com a deslocalização das secretarias de Estado e os conselhos de ministros fora de Lisboa. Como é que um ministro atento pode dizer uma coisa destas? Desde quando é que fazer uns conselhos de ministros fora de Lisboa é aproximar o governo das pessoas? O que é que isso traz de positivo para as populações a não ser 5 minutos nos telejornais? Quanto à deslocalização das secretarias de estado há aqui um equívoco terrível. Deslocalizar geograficamente umas secretarias de estado não passa de uma medida mal estudada e capaz de causar mais problemas do que benefícios. Santana quis fazer um governo diferente, mexendo na orgânica de ministérios e apostando na descentralização do governo. Mas descentralizar devia passar por competências e não por localizações geográficas. É que passar uma secretaria de estado de Lisboa para Aveiro, significa apenas que as pessoas em vez de terem que ir a Lisboa vão passar a ter que ir a Aveiro, pois as competências continuam centralizadas numa só estrutura. Acresce a isto, que todo o resto do ministério permanece em Lisboa, o que faz com que os secretários de Estado passem grande parte do seu tempo na capital a despachar com o ministro ou tratar de outras questões. Portanto, não se vê qual é a vantagem disto? Mexer a fundo na orgânica dos ministérios é outra imprudência que não se devia cometer. É que por causa de tais mexidas a nova lei orgânica do governo demorou dois meses a ser aprovada com disputas de competências entre ministros e mesmo entre secretários de Estado dentro dos próprios ministérios. Confusões que podiam bem ser evitadas. Ora qualquer ministro atento neste governo deve ter reparado nisto e Costa Neves deve sabê-lo. Se o sabe porque diabo veio agora defender uma coisa difícil de justificar e até mesmo de compreender a não ser na lógica do primeiro-ministro? Depois apelar ao voto no referendo europeu na inauguração de um porto de abrigo, só porque este foi feito por fundos europeus é no mínimo estranho. Estou a ver os pobres dos pescadores a votar no referendo pela constituição europeia, uma coisa que eles nem sequer sabem o que é! O importante não é dizer aos pescadores que devem votar porque o dinheiro para o porto de abrigo veio da Europa. O importante era explicar-lhes o que está em causa neste referendo e a que se destina o referendo. Mas isso são coisas que não são para agora. É, por isso, triste ver um ministro a representar este papel. Como também é triste vê-lo misturar as funções de ministro com as de membro de um partido. É que um discurso daqueles estava bem para um comício partidário, mas não para uma inauguração de um porto de abrigo.
 
posted by Jose Matos at 13:32
sábado, outubro 23, 2004
É curioso que a notícia sobre as pretensas irregularidades cometidas pelo vereador Abílio Silveira tenha surgido na mesma altura em que o PS retirou o seu apoio a Vladimiro Silva. Ou seja, será que não estamos perante uma tentativa de desviar atenções? Ou foi apenas um mero acaso as duas notícias terem saído na mesma altura? Bem, como não sei o que passa nos bastidores não vou afirmar uma coisa nem outra. Mas não deixa de ser estranho a sua proximidade temporal.
 
posted by Jose Matos at 18:34
quinta-feira, outubro 21, 2004
Já aqui em tempos a propósito de um outro caso com o adjunto do Presidente da Câmara tinha alertado para o risco do PS entrar em terrenos pantanosos, quando denuncia irregularidades na vida de pessoas próximas do Presidente da Câmara. Se o vereador Abílio Silveira tivesse realmente cometido aquilo de que é acusado não teria grandes hipóteses senão demitir-se. Agora lançar para o ar uma acusação mal fundamentada sobre a qual não existem provas cabais é má política. É preciso cuidado quando lançamos um ataque destes a uma pessoa que é vereador numa câmara. É que se não temos forma de provar o delito com toda a certeza, o melhor é estarmos calados, pois vamos difamar alguém sem ser preciso. Já agora como sou deputado aproveito para dizer que já cometi vários crimes, mas que devido à sua natureza estão todos em segredo de estado. Exerço por isso o meu mandato descansado a coberto do maior dos segredos.

 
posted by Jose Matos at 23:38
Em Março escrevi aqui que Vladimiro Silva estava a prestar um serviço ao partido como candidato do Partido Socialista à CME. Numa altura em que parecia não haver mais ninguém interessado em ser candidato ele avançou. Creio que a falta de candidatos na altura se prendia com a percepção de que disputar uma eleição contra actual maioria não seria fácil e que acabaria certamente em derrota. E como ninguém gosta de perder, toda a gente deixou avançar Vladimiro Silva. Escrevi também aqui que depois da derrota muitos apareceriam para lhe pedir contas do desastre eleitoral. Pelos vistos, o ajuste de contas foi mais cedo do que eu julgava. Mas há obviamente em tudo isto, uma gestão desastrosa de uma candidatura de um partido a uma câmara. Deixar um candidato avançar e tirar-lhe depois o apoio não é lá muito bonito. Explicar tudo isso com razões vagas de ordem pessoal, também não ajuda muito. Isto não significa obviamente que Vladimiro Silva fosse um bom candidato para o PS. Acho que depois dos dois mandatos que fez na câmara devia se ter afastado, feito a sua travessia do deserto. Não o fez e insistiu ainda numa nova candidatura à câmara. Mas deixar avançar um candidato indesejado porque não há mais ninguém não é boa política num partido. E tirar-lhe o tapete a esta distância das eleições também não. Ainda por cima, quando a solução que se desenha parece ser mais alguém do aparelho partidário. Mas lá fundo percebo tudo isto. Um partido sem alternativas fora dele, sem capacidade para captar gente de fora, só pode fechar-se sobre si próprio.

E já agora recordava também aqui estas palavras singelas que o Pedro Vaz escreveu em Março a respeito da candidatura de Vladimiro Silva.

O PS entendeu, por bem, indigitar Vladimiro Silva, como o seu candidato à Câmara Municipal, independentemente do “timing” do anúncio, penso que Vladimiro Silva é a pessoa capaz de derrotar a coligação “interesseira” existente em Estarreja, que apenas existe numa lógica de poder pelo poder. Acho, e agora de uma perspectiva única e exclusivamente pessoal, que é a oportunidade, que todos os Estarrejenses, reporem a injustiça para com o PS e Vladimiro Silva.

Depois de um auto-de-fé destes, o que mais se pode dizer? Que o autor tenha coragem e assuma que o partido errou? Que reconheça que estava errado quanto ao candidato escolhido e que só agora é que descobriu? Ou que estava certo no passado e que agora é que está tudo mal? E se Vladimiro Silva era realmente a pessoa certa no lugar certo, como é que agora deixou de ser? Realmente há aqui coisas inexplicáveis!
 
posted by Jose Matos at 23:13
Em tudo o que fazemos cristaliza a pessoa que somos. As decisões, os actos, os erros, as insistências, os desvios, tudo isso vem do fundo de nós. Está lá tudo. Sempre vi em Carlos Tavares um economista culto, pragmático, conhecedor dos meandros da banca, da finança e do governo. Um economista sereno, discreto, guiado pela vontade de fazer bem e de ser bem sucedido. Grande parte da sua carreira foi feita na banca, embora tenha passado pela política como secretário de estado do Tesouro e mais recentemente como ministro. Nunca precisou da política para nada, mas sempre respondeu de forma positiva aos convites para tal incumbência, entre quais os dois que lhe fizeram ao longo dos anos para presidir a Assembleia Municipal de Estarreja. Podia não ter aceite tal encargo. Com a vida ocupada que tinha era algo que podia perfeitamente dispensar. Mas sempre aceitou dando um sinal de que não estava completamente desligado da sua terra. É uma atitude que devemos registrar. Temos obviamente apreço por um homem com a sua experiência. E penso que não merece ser criticado no que diz respeito ao parque industrial. Afinal a decisão final não foi dele, mas sim do Presidente da Câmara. É a ele e à sua equipa que cabe o sucesso ou o fracasso. Como já disse há tempos daqui a uns anos já ninguém se lembrará dos maus presságios lançados contra o parque industrial. Os pressagiadores estarão certamente ocupados com outros males e lá dirão sempre que o parque industrial correu bem, mas que podia ter corrido mal. E como a memória é curta, quem estará aqui para lhes pedir contas? Bem, comigo podem contar concerteza.
 
posted by Jose Matos at 22:25
quarta-feira, outubro 20, 2004
Os vermes, os gatos,
os carros, os prédios,
a espera, os pátios,
os jogos, as lutas,
os brutos, as pátrias,
as sombras, os vultos,
os estranhos, os mártires,
os dias, as horas,
as praças, os copos,
os olhos, a íris,
os beijos, a casa,
a noite e os cacos,
poemas e factos,
os fados sem tema,
o tempo quebrado,
a dor, o dilema:
No fundo do mar.
Estarreja no fundo do mar.
Um dia, quem sabe,
se homens, se aves,
alguém virá para te encontrar
de ruas abertas, desertas,
cobertas por sombras
azuis e corais,
num silêncio terno,
eterno, imenso,
de fachadas desiguais,
de naufragos dias,
saudades de pedra.
Quem te vir assim,
esquecida no mar,
irá procurar-te a vida.
E se então sonhar
um tempo de amor,
talvez pense em nós:
Querida

Inventário Marítimo do Quinteto Tati (com uma ligeira adaptação)
 
posted by Jose Matos at 14:18
terça-feira, outubro 19, 2004
Deslizaste depois da chuva
Depois da chuva de prata

As estrelas com seus ossos
Sós construíram-te uma casa
Aonde a levas sobre uma toalha

O tempo capenga te persegue
Para alcançar-te para esmagar-te
Estende os chifres caracol

Te arrastas por uma face gigante
Que jamais hás-de fitar
Directo para a boca do nada

Retorna à linha da vida
À minha palma de mão sonhada
Enquanto não é tarde demais

E deixa-me como herança
A toalha mágica de prata

Vasko Popa
 
posted by Jose Matos at 13:47
segunda-feira, outubro 18, 2004
O poeta ontem fez 80 anos. António Ramos Rosa nasceu em 1924, em Faro. Estudou no liceu local e no início dos anos 50, mudou-se para Lisboa. Foi um dos fundadores da revista Árvore, onde publicou poemas e ensaios literários. Vivia numa pensão com mais alguns amigos da revista e lá se aguentavam. Chegou a ter um emprego num escritório, mas não aguentou a rotina. Num belo dia de Sol saiu à rua e deixou-se seduzir pela luz solar. Sentiu que não podia trabalhar naquela rotina, naquele lugar longe da luz do dia. Foi lá passados uns dias dizer isso aos patrões. Que não podia voltar a trabalhar num sítio daqueles. E nunca mais trabalhou. Passou a vida a escrever poemas e dar explicações. Fez bem. Tomara muitos terem a mesma coragem. Sair num dia de Sol e nunca mais voltar ao escritório.

O espaço do olhar é tão claro e aberto
que nós estamos no mundo antes de o pensarmos
e nada nele indica que exista um outro lado
de sombras incertas de silêncios abismais
Vivemos no seio da luz onde o inteiro vibra
com a sua evidência de claro planeta
e ainda que divididos vivemos no seu espaço uno
porque é o único em que podemos respirar
As nossas sombras não nos acolhem como folhas
envolvendo o fruto o nosso desamparo vem de mais fundo
e nele não podemos manter-nos temos de ascender
ao móvel girassol do nosso olhar
ainda que seja só para ver a fulva monotonia do deserto
A vocação da pupila é o imediato universal
quer caminhemos numa rua quer viajemos pelo mundo
quer ainda diante de uma página em branco
A palavra pode anteceder a visão mas também ela é atraída
para o luminoso espaço em que desenha os seus contornos
Como poderia a palavra fingir o que lhe foge
sem a superfície de um solo iluminado?
 
posted by Jose Matos at 16:12
O aumento dos impostos sobre o tabaco e a proibição de fumar em espaços públicos fechados (menos em bares e restaurantes) são medidas positivas para reduzir o consumo de tabaco entre nós. É pena que não se siga o exemplo da Irlanda onde é proibido fumar em todos os locais públicos fechados desde Março deste ano. Quem quer fumar vai para a rua. O que se gasta todos os anos em saúde para tratar os males do tabaco devia fazer-nos pensar. Tenho esperança que no futuro haja mais coragem e se siga o exemplo irlandês, que também já foi seguido na Noruega. É que as pessoas que não querem fumar não podem estar sujeitas ao fumo dos outros como acontece nos bares e restaurantes, onde apanhamos autênticas nuvens de fumo. É, por isso, que me custa entrar em bares e que o único sítio que frequento à noite é o cinema, onde felizmente é proibido fumar.
 
posted by Jose Matos at 16:10
sábado, outubro 16, 2004
A confirmar-se a retirada do apoio do PS à candidatura de Vladimiro Silva à CME nas próximas eleições estamos perante uma novidade política interessante. É claro que esta situação foi cozinhada no interior do PS para outra pessoa avançar. Por isso, estou curioso em ver quem é o senhor que se segue. Um caso a acompanhar.
 
posted by Jose Matos at 01:00
segunda-feira, outubro 11, 2004
O anúncio que Santana Lopes fez nos Açores a propósito da descida do IRS no próximo ano vem contra aquilo que o ministro Bagão Félix disse há um mês atrás sobre o mesmo assunto. É óbvio que um dos dois está a enganar-nos. Resta saber qual com a apresentação do orçamento de estado. Mas este tipo de contradições entre o primeiro-ministro e os seus ministros já começa a cansar. É que nunca sabemos se uma coisa que um ministro diz hoje não é desmentida no dia seguinte pelo primeiro-ministro.
 
posted by Jose Matos at 14:14
Há neste momento uma certa vontade entre Presidente, Governo e partidos para que vá para a frente um referendo sobre o tratado da Constituição Europeia. Jaime Gama chamou-lhe há tempos uma “paródia democrática” e é capaz de não estar muito longe da verdade. Em princípio não tenha nada contra o referendo, mas parece-me que este espírito referendário sobre a constituição europeia veio mais por arrastamento em relação a outros países do que pela vontade genuína de referendar o tratado. Depois tudo isto é caricato. Vamos referendar uma coisa que já foi aprovada sem referendo nenhum? Ou seja, vamos referendar um facto já consumado? A lenga-lenga para votar no sim vai ser de que se não votarmos sim Portugal vai ficar fora do comboio europeu. O PSD e o PS vão apelar ao sim, enquanto que o PCP e BE vão apelar ao não. O CDS não sei? E o sim deve ganhar com uma abstenção tremenda. Porque o que realmente importa dizer aqui é que os eleitores não estão minimamente preparados para votar uma coisa que nem sequer conhecem bem e que estão pouco interessados em conhecer. Daí que muitos vão ficar em casa a ver a banda passar. E no fim do dia, os partidos defensores do sim lá vão estar contentes a dizer que os portugueses apoiam a constituição europeia, quando na verdade os portugueses nem sabem o que isso é. Não lhe chamaria “paródia democrática” como o Jaime Gama, mas talvez abstracção democrática.
 
posted by Jose Matos at 14:13
Depois da inauguração da nova biblioteca municipal há que olhar um pouco para o futuro, pois é do futuro que convém falar. O percurso da biblioteca foi longo e 12 anos depois do 1º passo para uma nova biblioteca em Estarreja temos finalmente a obra a funcionar. A proposta de localização no actual edifício tem já 10 anos, o que mostra o quanto este processo se atrasou. Mas depois da inauguração, o que eu posso dizer é que foi um erro ter escolhido o palacete dos Leites para instalar a nova biblioteca. Não é que o edifício não seja bonito para uma biblioteca, mas temos maus exemplos de soluções parecidas como o caso da biblioteca de Aveiro, que neste momento está esgotada com necessidade de um novo edifício. A nossa começou com 15 mil volumes e vai em breve chegar aos 25 mil. A sua capacidade máxima de livros em exposição andará em torno deste valor e isto significa que será necessária uma gestão muito cuidadosa, entre o número de livros em exposição e os livros em reserva para que o espaço não fique saturado. Talvez não venha daí grande problema, mas é óbvio que teria mais potencialidades caso o espaço fosse maior e não limitado como é. Penso que olhando para trás teria sido muito melhor avançar com um edifício novo concebido de origem para a sua função. Era isso que estava previsto em 1992 no tempo do PSD. Não foi por aí que o PS foi e a meu ver mal.

É claro que é sempre difícil prever o futuro do livro, mas a migração para suporte informático será uma realidade dentro de alguns anos em todas as bibliotecas. Haverá sempre alguma coisa em papel, mas muita coisa passará para um disquinho. Isso poupará espaço, o que joga a favor da actual biblioteca. Daí que talvez não seja preciso pensar numa nova biblioteca nos próximos 10 anos. Mas vamos ver se esta minha preocupação da falta de espaço perderá sentido com o passar do tempo.
 
posted by Jose Matos at 14:11
quarta-feira, outubro 06, 2004
A actuação dos MESA em Estarreja esteve a um bom nível. Boas canções, boa vocalista (embora muito mal vestida) e uma plateia mais ou menos atenta. É claro que fica a dúvida até que ponto não valia a pena concentrar este tipo de concertos nas festas da vila. É que não esteve assim tanta gente como isso durante o concerto. A tenda estava composta, mas calculo que estivessem menos de 200 pessoas lá dentro. Mas cá fica a minha vénia à câmara por se ter lembrado deste grupo.
 
posted by Jose Matos at 13:56
É caricato perguntar ao povo a razão do 5 de Outubro? Muitos não sabem, outros lá dizem que foi a implantação da República. Mas quando se pergunta quem foi o primeiro Presidente da República e aí já a coisa fica mais difícil. Arriaga, quem é esse? E o pobre do Manuel de Arriaga que só há pouco tempo teve o reconhecimento devido com a transferência dos seus restos mortais para o Panteão Nacional continua na sombra da História. Mas mesmo a República. Quem sabe quantos anos durou? Como acabou? O que veio a seguir? Se formos à rua perguntar isto ao povo quantos responderão certo? Sei que isto não torna ninguém mais feliz, mas que diabo devia dar-se na escola! Se é feriado devia saber-se a razão! Ou sou eu que estou mal?
 
posted by Jose Matos at 13:54
Na hora da morte há sempre homenagens a prestar. A minha primeira é para esta câmara que sempre defendeu o traçado a poente sem nunca vacilar, sem nunca mudar de agulha. Por ela já teria sido construído há muito. E estou convicto que vai continuar a lutar, que não vai desistir de ter uma alternativa à 109. Á comissão dinamizadora que também lutou até ao último momento sem nunca hesitar. Pena ter sido uma luta inglória. Mas fica a luta, o sinal de que as pessoas quando querem conseguem mobilizar-se e lutar por uma causa. E por fim, a todos os políticos que passaram por Estarreja e que na sua inocência deram a sua palavra de que iam fazer tudo para que o IC1 fosse a poente. Mal sabiam eles que estavam a prometer o impossível. Mas foram sinceros e devemos homenageá-los por isso.
 
posted by Jose Matos at 13:40
Lá peguei no carro e fui dar uma voltinha pela A17 entre Aveiro e Mira e constatei uma coisa curiosa. O IC1 morreu. Não se vê o seu nome em lado nenhum. Mesmo nos jornais já ninguém fala dele. Só se ouve falar em auto-estrada e portagens. Fiquei a pensar no assunto. Na morte subtil que lhe deram. Na falta de sentido que passou a ter a defesa de qualquer conclusão do traçado entre Estarreja-Angeja. Para que queremos nós mais uma auto-estrada com portagens mesmo com desconto? É que já não vai ser o IC1 tão sonhado. Esse morreu, acabou. Como já circula na blogosfera é bom é começar a planear uma variante alternativa à 109 e uma boa ligação à Murtosa. O resto já pouco interessa. Ser a poente ou a nascente deixou de fazer qualquer sentido. As cegonhas vão ficar contentes e os verdes também. Por isso, parece-me que é bom é começarmos a pensar num futuro sem ele, mas com soluções para os problemas existentes. Mas é bom que se diga que quem matou o IC1 não fomos nós. Foi morrendo aos poucos. Agora foram as portagens, mas já antes o tinham atingido de morte quando criaram a ZPE a poente ou quando decidiram aumentar a A1 para mais duas faixas arrumando com qualquer solução a nascente.

Lá em baixo, em Lisboa, já sabem o mesmo que eu. Que fica mais barato uma variante à 109 e uma ligação à Murtosa do que uma auto-estrada a poente, mesmo contando com as indemnizações ao concessionário da obra por esta não se fazer. Também já devem ter percebido que era muito difícil justificar a travessia pela ZPE ou ainda fazer o traçado a nascente com o alargamento da A1. Mas no segredo dos gabinetes continuam a estudar dizem eles. Não podem vir cá fora dizer isto. Mas cá fora já o mataram subtilmente. Já o suprimiram e esperam que a memória do povo faça o resto. E quando o povo perceber que ele já morreu aí sim, vão publicar a notícia do óbito. Não faltarão alguns a chorar a sua morte. Mas a tristeza passará depressa caso existam soluções. E é isso que deve ser feito logo a seguir ao enterro. Que sejam apresentadas novas soluções.
 
posted by Jose Matos at 13:38