segunda-feira, junho 28, 2004
Já reparou que Portugal está mais bonito.
 
posted by Jose Matos at 17:00
sábado, junho 26, 2004
Uma brisa atlântica abraça a Lisboa adormecida
O vento do Cáspio desperta Baku
Maior que oriente, maior que ocidente
4000 quilómetros entre elas
Para uma pátria infinita

Identidade formada em pedra, tela e papel
Herança em cada esquina
Cultura conferida numa canção de embalar
Paixão numa poeirenta garrafa de vinho
Alma incarnada no voo do falcão

Experiente, céptica, irónica, austera, erótica
Um velho continente enfrentando as provações do futuro
Porta após porta na congestão do tempo
Perdurando para além de efígies cabotinas do destino
Perguntando-te, o que fizeste por ela?

Guerras virtuosas devêm obsoletas
Mas a luta jamais está completa
Um combate silencioso para construir
Tijolos que procuram um lugar numa nação
Nossa missão, nosso dever, nosso destino

M.Daedalus

 
posted by Jose Matos at 19:38
sexta-feira, junho 25, 2004
O Verão estala por todos os poros
da casca das árvores,
da língua dos cães,
das asas das cigarras,
do bico do peito das mulheres
tão acerado
que rasga o céu de calor
com um golpe preciso
de lanceta.

João José Cochofel
Quatro Andamentos (1964)
In Obra Poética Lisboa, Caminho, 1988


 
posted by Jose Matos at 17:45
terça-feira, junho 22, 2004
Não as sombras de julho
entornando neblina
mas o azul de janeiro
lavando alma e retina.

Não as chuvas de março
torvelinho e alcantil.
O cristal, sim, do orvalho
na pétala de abril.

O frescor da montanha
seduzir-me não vá.
Quero mais branca espuma
aos pés à beira-mar.

Não relíquias da infância
evocações de outrora.
Entre paisagem e paisagem
a paz do sono, agora.

Maria Thereza Noronha
 
posted by Jose Matos at 13:28
A noite chega com todos os seus rebanhos
Uma cidade amadurece nas vertentes do crepúsculo
Há um íman que nos atrai para o interior da montanha.
Os navios deslizam nos estuários do vento.
Alguma coisa ascende de uma região negra.
Alguém escreve sobre os espelhos da sombra.
A passageira da noite vacila como um ser silencioso.
O último pássaro calou-se.As estrelas acenderam-se.
As ondas adormeceram com as cores e as imagens.
As portas subterrâneas têm perfumes silvestres.
Que sedosa e fluida é a água desta noite!
Dir-se-ia que as pedras entendem os meus passos.
Alguém me habita como uma árvore ou um planeta.
Estou perto e estou longe no coração do mundo.

António Ramos Rosa in "A Rosa Esquerda"(1991)
 
posted by Jose Matos at 02:16
segunda-feira, junho 21, 2004
"Eu sei que futebol é assim mesmo,
um dia a gente ganha,
outro dia a gente perde,
mas porque é que,
quando a gente ganha,
ninguém se lembra
que futebol é assim mesmo?"

Carlos Drummond de Andrade in "Quando É Dia de Futebol"
 
posted by Jose Matos at 01:50
sexta-feira, junho 18, 2004
Estás no verão,

num fio de repousada água, nos espelhos perdidos sobre

a duna.

Estás em mim,

nas obscuras algas do meu nome e à beira do nome

pensas:

teria sido fogo, teria sido ouro e todavia é pó,

sepultada rosa do desejo, um homem entre as mágoas.

És o esplendor do dia,

os metais incandescentes de cada dia.

Deitas-te no azul onde te contemplo e deitada reconheces

o ardor das maçãs,

as claras noções do pecado.

Ouve a canção dos jovens amantes nas altas colinas dos

meus anos.

Quando me deixas, o sol encerra as suas pérolas, os

rituais que previ.

Uma colmeia explode no sonho, as palmeiras estão em

ti e inclinam-se.

Bebo, na clausura das tuas fontes, uma sede antiquíssima.

Doce e cruel é setembro.

Dolorosamente cego, fechado sobre a tua boca.


José Agostinho Baptista

Paixão e Cinzas (1992)

In Biografia Lisboa, Assírio & Alvim, 2000


 
posted by Jose Matos at 16:19
Sobre os cotovelos a água olha o dia sobre

os cotovelos. batem folhas da luz
um pouco abaixo do silêncio. Quero saber
o nome de quem morre: o vestido de ar
ardendo, os pés e movimento no meio
do meu coração. O nome: madeira que arqueja, seca desde o fundo
do seu tempo vegetal coarctado.
E, ao abrir-se a toalha viva, o
nome: a beleza a voltar-se para trás, com seus
pulmões de algodão queimando.
Uma serpente de ouro abraça os quadris
negros e molhados. E a água que se debruça

olha a loucura com seu nome: indecifrável cego

(Herberto Helder)
 
posted by Jose Matos at 16:17
segunda-feira, junho 14, 2004
Parabéns ao PS pela vitória de hoje. Como é notório o PSD apanhou a maior derrota de todos os tempos. É bom que o partido e o governo tirem conclusões desta banhada. E tenho pena que Regina Bastos não tenha sido eleita. Merecia um lugar melhor na lista e consequentemente um lugar no parlamento europeu.
 
posted by Jose Matos at 00:39
quarta-feira, junho 09, 2004
A morte de Sousa Franco é chocante e mostra bem que a morte não escolhe a hora nem o momento certo para nos colher. De repente, o coração pára e voltamos ao obscuro donde viemos. Espero que todos os partidos suspendam a campanha. É o mínimo que podemos fazer em memória à figura e ao homem bom que hoje deixou de viver.
 
posted by Jose Matos at 13:46