Andamos anos a discutir o problema do poente/nascente, quando o nosso verdadeiro problema nos últimos anos foi sempre uma aberração chamada A29. Ou melhor dizendo, quando o nosso verdadeiro problema foi sempre uma coisa chamada racionalidade da rede viária.
É que o troço agora é discussão é à primeira vista um caso típico de conflito entre custos e localização, mas a verdade é que é um caso típico de mau planeamento viário. É óbvio que a construção de um troço junto à A1 foi desde sempre a opção mais barata e com menos impacto ambiental. É natural que fosse desse ponto de vista uma opção atraente para quem governa.
Mas a localização próxima a uma auto-estrada com portagens não era algo aconselhável em termos de eficiência e utilidade. E a provável introdução no futuro de portagens na A29 torna esta opção ainda mais estranha, dado que serão duas vias muito semelhantes, ambas com portagens distanciadas a 500 metros uma da outra. Não vejo que seja viável manter a A29 durante muitos anos sem portagens. Não vejo também que isso seja uma opção racional por parte do governo. Afinal estamos a falar de uma via com características de auto-estrada e não de uma simples via rápida. Portanto, merece obviamente ter portagens.
É claro que uma solução a poente era deste ponto de vista mais racional em termos de localização, embora com custos muito mais elevados (300 milhões de euros) devido ao problema ambiental. Também não seria uma opção certa com as características actuais, ou seja, seria apenas mais uma auto-estrada com portagens e ainda por cima caríssima.
Portanto, o problema não está no poente/nascente que tanta tinta fez correr, mas sim numa coisa chamada A29. É que esta coisa chamada agora A29/IC1 devia ser na sua totalidade uma alternativa à EN109. Foi para isso que foi pensada. Pode-se considerar que o foi no tempo do IC1 entre a Valadares e Maceda (e ainda é). Esse sim é um troço alternativo à EN109. Mas deixou de o ser a partir do troço de Maceda/Estarreja. É aqui que o IC1 morre para dar lugar a uma aberração chamada A29.
É aqui que surge logo a estranheza de um troço típico de auto-estrada não muito longe de uma outra auto-estrada. O resto do troço entre Estarreja e Angeja terá as mesmas características e ainda por cima “colado” à A1. Ou seja, temos aqui uma falta de racionalidade clara, porque o que se devia ter feito era uma via rápida simples que nunca teria portagens e que seria uma verdadeira alternativa à EN109. Um dia quando a A29 tiver portagens a alternativa sem portagens será apenas a EN109, o que nos deixa na mesma.
É claro que o governo agora já não pode recuar. Os custos da indemnização ao concessionário por atrasos na obra já são elevados e vão continuar caso nada seja feito. Portanto, qualquer solução alternativa ao que já está planeado não tem agora qualquer sentido. E é notório que o governo só faz o que está a fazer porque não está disposto a pagar mais dinheiro ao concessionário pelos atrasos na obra e não por acreditar na solução proposta.
Portanto, o que devia ter sido pensado há muito tempo não era uma A29 como vamos ter, mas sim um IC1 com características de via rápida que unisse Porto/Aveiro, e que fosse uma verdadeira alternativa à EN109. E aí sim até podia ser a nascente, pois nunca seria uma auto-estrada encostada a outra auto-estrada como vai ser no futuro e ainda por cima com portagens. Se tivéssemos um planeamento correcto da nossa rede viária e do nosso dinheiro público era isto que tínhamos feito. Mas nós por cá não temos nada disso.
Mas neste domínio continuamos a errar. O caso da A25 é outro igual. Fez-se uma auto-estrada parcialmente em cima do antigo IP5 em vez de uma auto-estrada completamente à parte. Um dia se forem introduzidas portagens na A25, os condutores não terão alternativa. E vão ter exactamente o mesmo problema que vamos ter no futuro.