segunda-feira, agosto 30, 2004
Mandar uma corveta e um navio-patrulha da Marinha portuguesa acompanhar o "barco do aborto", é no mínimo um exagero perante uma embarcação tão inofensiva. Um navio-patrulha chegava muito bem. Dizer que não deixam atracar o barco por razões de saúde pública é no mínimo estranho quando nem sequer a Direcção-Geral da Saúde foi ouvida sobre o assunto. Será que agora o Ministério da Defesa também define o que é ou não um perigo para a saúde pública? É que eu pensava que quem fazia isso era o Ministério da Saúde!
 
posted by Jose Matos at 17:48
sexta-feira, agosto 27, 2004
É uma obra invisível, subterrânea, mas das mais importantes que a câmara fez nos últimos anos. É um sinal de civilização que os romanos conheciam bem, mas que nós só agora temos à nossa disposição. Refiro-me ao saneamento essa obra corriqueira que tanta falta nos faz. Noutros tempos fazia-se tudo no meio da rua ou então em casa num penico cujo conteúdo era atirado pela janela, obrigando quem passava a certas manobras evasivas. As pessoas também usavam os quintais ou os rios onde a água levava tudo. Em França ainda existe um rio com um nome curioso: o Merderon. Até que um dia descobrimos que os romanos é que estavam certos e começamos a construir esgotos e infra-estruturas sanitárias. Mas este ar de limpeza chegou tarde. Ainda há muita gente com fossas em casa, ainda há muita gente que resiste em ligar-se à rede pública. Ainda há gente que pela calada da noite usa os velhos métodos de outros tempos e despeja lentamente a fossa para a rua. Tenho cá na rua quem faz isso. Tenho por cá quem confunda a rua com o rio Merderon. É pena, pois hoje em dia já não há quem se dedique a apanhar excrementos na rua para serem vendidos como estrume. É uma arte perdida a do apanhador de excrementos. Noutros tempos percorriam as ruas à procura de excremento bovino. Era normalmente míudos em idade escolar, que antes de ir para a escola de manhã iam limpar as ruas das marcas deixadas pelos animais. Desapareceram todos. As marcas dos bovinos duraram mais tempo, mas agora nem isso. Nem uma vaca se vê a marcar território. Só mesmo os cães e esses também são poucos. Como outras artes antigas a do apanhador de excrementos também desapareceu. Deixou de ter trabalho. Deve estar no subsídio de desemprego.
 
posted by Jose Matos at 16:48
Logo a noite vai estar boa. Só se vê a Lua é certo, mas quem quiser pode aparecer. Dez da noite junto ao mercado municipal.

 
posted by Jose Matos at 16:27
segunda-feira, agosto 23, 2004
Quando vou ao cinema já está habituado. Há sempre um roedor perto de mim a comer um balde de pipocas. Se soubessem o que eu sei nunca mais as comiam. É que um daqueles baldes maiores tem 1700 calorias. Ora, se pensarmos que o número médio de calorias recomendado para uma pessoa média é de 2200 cal/dia para um homem e 1600 cal/dia para uma mulher, há quem coma quase a dose diária de calorias numa simples sala de cinema. Mas não é só nas pipocas que comemos calorias a mais. Em tudo o que é fast food elas estão lá à nossa espera. Nas batatas fritas, nos Burger Kings, nas colas, nas febras fritas em óleos negros, nos doces em tudo o que faz as delícias dos comedores de fim-de-semana no Jumbo. Em média estamos a comer por dia mais 160-300 cal do que há 30 anos atrás. Em média comemos 800 kg de comida por ano contra os menos de 700 kg dos anos 70. Não espanta por isso que cada vez mais existam pessoas com excesso de peso. Os tipos barrigudos fazem já parte da nossa paisagem portuguesa. Mas agora vê-se muito mulheres com as banhas de fora. Ainda por cima, compram gangas justas na cintura e camisolas para mostrar a barriga. E lá vão a mostrar as calorias que comeram a mais.
 
posted by Jose Matos at 03:11
sexta-feira, agosto 20, 2004
You could be from Venus
I could be from Mars
We would be together
Lovers forever
Care for each other

You could live in the sea
And I could be a bird
We would be together
Lovers forever
Care for each other

If you were an illusion
I would make it real
We would be together
Lovers forever
Care for each other

If you walk in the sun
I would be your shadow
We would be together
Lovers forever
Care for each other

Air
 
posted by Jose Matos at 23:00
Noite das coisas, terror e medo
Na aparente paz dispersa
Sobre as linhas caladas.
Efeitos de luz nas paredes caiadas,
Gestos e murmúrios de conversa
No mundo estranho do arvoredo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

 
posted by Jose Matos at 22:15
Há no ar um manto de ruídos confusos e de muitas vozes. É sempre assim quando esperamos muito tempo por uma coisa. A paciência é uma arte que se perdeu e não sabemos esperar pelo curso normal das coisas. Sempre houve dúvidas sobre o traçado do IC1 a poente, mas outra coisa não nos resta senão esperar com serenidade. Tudo foi feito e tem sido feito para que seja essa a solução final. O governo não deu até hoje o mínimo sinal que esteja a pensar no traçado a nascente. Sendo assim, porquê falar novamente no assunto? Será falta de tema para estes dias de Verão? Mas será que ninguém vai de férias nesta terra? Ide-vos, descansai, ninguém vai fazer nada nestes dias indolentes. E quando regressarem de férias vão ver que está tudo na mesma. Sosseguem, ó espíritos inquietos.
 
posted by Jose Matos at 21:18
quinta-feira, agosto 19, 2004
A água perfura a pedra,
o vento dispersa a água,
a pedra detém ao vento.
Água, vento, pedra.

O vento esculpe a pedra,
a pedra é taça da água,
a água escapa e é vento.
Pedra, vento, água.

O vento em seus giros canta,
a água ao andar murmura,
a pedra imóvel se cala.
Vento, água, pedra.

Um é outro e é nenhum:
entre seus nomes vazios
passam e se desvanecem.
Água, pedra, vento

Octavio Paz
 
posted by Jose Matos at 14:15
segunda-feira, agosto 16, 2004
Sempre achei Souto Moura um procurador simpático. Aquele ar sorridente de avôzinho fica-lhe bem. Mas quando começou o caso Casa Pia vi logo que o nosso procurador aguentava mal a pressão mediática. Falou demais e só tarde é que se apercebeu disso. Agora com o caso das cassetes roubadas percebi que só responde por ele mesmo na procuradoria e por mais ninguém. Todo o resto que se passa lá dentro não é com ele. Ou seja, o que a acessora de imprensa disse nas ditas gravações é lá com ela. E tanto assim é, que vai ainda apreciar o seu pedido de demissão, quando ele próprio é que a devia ter demitido logo que soube do caso. Mas como ele disse, nem foi ele que a nomeou. Já lá estava quando ele lá chegou, nem sequer é do gabinete dele (e se fosse, pergunto eu?). Mas o mais terrível é ouvi-lo dizer que continua no cargo desde que tenha as condições mínimas para continuar. Já não precisa de muitas condições bastam as mínimas. Quando se diz uma coisa destas é porque realmente já não temos as mínimas condições para continuar em cargo nenhum.
 
posted by Jose Matos at 15:36
Hoje num texto que saiu no Público Manuel Maria Carrilho ataca Sócrates em vários aspectos chamando a atenção para o erro de votar nele para secretário-geral do PS. O texto é muito interessante e gostei principalmente da parte em que diz que a "política é matreira com os imprudentes". Convém lembrar que Carrilho é o mandatário de Manuel Alegre, de quem disse em 1997 ao "Expresso" que era um "homem do passado", um "homem que não se reconhece no mundo de hoje" e não alinhava com a estratégia do PS, enquanto partido do Governo e "do futuro". Ora quando se diz uma coisa destas de uma pessoa como é que agora se pode apoiar a mesma pessoa a secretário-geral do PS e ainda por cima ser seu mandatário? Mas o mais espantoso de tudo isto é que Manuel Alegre agora com 67 anos deixou de ser o "homem do passado" para ser o futuro do PS. Um caso de rejuvenescimento digno de nota.
 
posted by Jose Matos at 14:54
domingo, agosto 15, 2004

A chuva vai voltar mais uma semana para estragar um bocadinho as nossas férias. As minhas não, porque não as tenho, mas não gosto obviamente de nuvens escuras em Agosto. Fazem logo lembrar o Inverno e o pouco tempo que dura o Verão.
 
posted by Jose Matos at 20:53
Num dia como o de hoje nada como um livro a condizer: "JESUS Contra JESUS" de Gérard Mordillat e Jérôme Prieur, publicado em Portugal pela Editorial Notícias. Entretanto, em França dos mesmos autores saiu "Jésus après Jésus" bem como o documentário que inspira o livro "L'Origine du christianisme" em quatro magníficos DVDs ainda sem tradução em português.
 
posted by Jose Matos at 19:34
sábado, agosto 14, 2004
O que mudou em Estarreja desde 1997? Bem, para começar mudou o presidente da câmara, o que já não é nada mau. A alternância é sempre saudável. Mas se andarmos mais para trás no tempo, vamos dizer 20 anos? O que mudou desde 1984? Muito bem. Temos uma piscina, uns arruamentos novos, uma nova escola com 2º e 3º Ciclo, uma nova praça do município, um palácio da justiça, um novo quartel dos bombeiros, um novo quartel da GNR, uma nova biblioteca e um novo teatro. Mas se alguém desse um salto de 20 anos no tempo para 2004 e surgisse de repente em Estarreja será que se perdia na nova cidade? Será que ia notar grandes diferenças? Nós que acompanhamos a evolução temos dificuldade em avaliar isso. Assimilamos a mudança. Mas para um viajante do tempo seria diferente. Ficaria espantado? Ou nem por isso? E daqui a 20 ou 30 anos? Como será Estarreja? O que teremos a mais do que hoje? Será que vamos ficar espantados com a Estarreja do futuro? Será que alguém consegue imaginar Estarreja em 2030 ou 2040? E porque não pensar nisso? Pensar na cidade em termos de futuro?
 
posted by Jose Matos at 03:13

Toshiba Satellite Pro 430CDT - P 120 MHz - 11.3" TFT - CD-ROm e disco de 1,2 Gb. Quando saiu em 1997 custava 300 e muitos contos. Hoje vende-se por 150 euros em países como a França. Por cá não tem grande procura. Mas noutros sítios parece que entusiasma muita gente. Durante muito tempo tive um parecido, mas com um ecrã de matriz passiva. Nunca teve grandes falhas e fez-me um adepto da Toshiba. Por acaso, hoje tenho um HP, mas só por mero acaso. Ainda não me convenceu, ainda continuo a resistir-lhe. Mas olhar para aquela caixa cinzenta tantos anos depois é estranho. Naquele ecrã colorido de 11.3" cabia tudo o que cabe agora no meu de 15.4". Mas se fosse hoje estranhava. E a velocidade contra o meu Centrino a 1.4 GHz. Que diferença abismal. E, no entanto, o que tenho agora foi mais barato que o meu velhinho Toshiba. Não há aqui qualquer coisa de estranho? Não ganhamos mais agora do que em 1997?
 
posted by Jose Matos at 02:46
quarta-feira, agosto 11, 2004

Era assim como este. Um processador motorola a 8 MHz, um disco duro de 40 MB e apenas uma drive de disquetes. Naquele tempo não havia CDs, nem pendisks. Era só mesmo a disquete. Mas era um computador simpático que já usava uma interface gráfica muito parecida com o Windows actual. O meu ainda era a preto e branco, mas depois saiu uma versão a cores: o Color Classic. Comprei-o em 2ª mão, mas ainda novo com aquela simpatia toda com aquele ar sorridente. Olhem bem para ele, não dá vontade de levar para casa? Vendi-o em 1997. O novo dono infelizmente não teve cuidado com ele e deixou-lhe chover em cima. Contaram-me, pois não tive vontade de o ver. Preferi guardá-lo na memória com o seu ar sorridente e não com o aspecto de ensopado.

 
posted by Jose Matos at 14:22
Há dias que andava atrás desta frase e hoje dei com ela.

"Our enemies are innovative and resourceful, and so are we. They never stop thinking about new ways to harm our country and our people, and neither do we.”

George W. Bush, Washington, 5 de Agosto de 2004.
 
posted by Jose Matos at 14:05
Em tempos já tive a ideia de criar um blogue só para questões militares, o soldado rabuge. Mas se dois já são demais imaginem três. Por isso, nunca me meti em tais andanças. Também não me parece que seja um tipo de tema muito apropriado para este, mas como acho que há para aí muita confusão sobre a questão dos submarinos aqui vai uma pequena explicação.
O submarino é em qualquer marinha um barco de guerra com a pequena diferença de poder actuar debaixo de água. E isto torna a sua localização difícil e dificulta qualquer acção contra ele. É uma arma terrível que mostrou bem do que era capaz em várias situações de guerra. Hoje além de poder actuar contra outras embarcações tem a capacidade de ataque directo a alvos em terra. Além disso, o seu perfil discreto permite a recolha de informações em áreas focais sem ser detectado, algo mais difícil para um barco de superfície ou mesmo para um avião.
Portanto, qualquer marinha que se preze deve pensar nele. Ora para Portugal servem principalmente para duas coisas:
1) Vigilância e controle do nosso espaço marítimo como complemento dos meios aéreos e de superfície.
2) Participação em missões NATO com algo que tem valor militar e que não nos deixa ficar mal perante os nossos aliados.
Serão mesmo no futuro um dos poucos meios de elevado valor militar que teremos ao nosso serviço. É pena que o governo não tenha explicado isto muito bem às pessoas. Mas penso que muita gente também não quer perceber. Estão mais preocupados com o treinador do Porto. Percebe-se. Sempre é mais barato que os submarinos.

 
posted by Jose Matos at 00:17
terça-feira, agosto 10, 2004
Recebi hoje a agenda cultural de Albergaria-a-Velha e gostei de ver uma galáxia na 1ª página. Trata-se de um destaque para o Astronomia no Verão que em Albergaria vai decorrer nas noites de 24 e 31 de Agosto. Podem ver todas as datas no FISUA. Também passamos por Estarreja a 27 de Agosto. Os nossos jornais locais (ao contrário da rádio) ainda não falaram do assunto. Mas como sei que são meus leitores conto com uma notícia.
 
posted by Jose Matos at 18:55
Tem passado diariamente na RTP 2 um excelente programa de entrevistas produzido pela Universidade Aberta. Passa todos os dias às 17h30. Hoje foi com o Pedro Tamem e amanhã será com o Manuel Paiva. No site do programa estão disponíveis em vídeo pequenas introduções com a pessoa a ser entrevistada. A Raquel Santos (que não conheço, mas gostava de conhecer) é boa como entrevistadora, o que também ajuda.
 
posted by Jose Matos at 18:35
sábado, agosto 07, 2004
O Jornal da Ria traz na sua última edição uma grande fotografia sobre a inauguração do Espaço Internet na Murtosa com dois presidentes de câmara a sorrir na capa. E eu sorrio também ao ler a notícia e ao ver que a Murtosa foi último concelho da AMRia a ter um espaço destes. E que só este ano é que temos os 11 concelhos da AMRia cobertos com este tipo de valência. É que tudo isto mostra o atraso com que estamos na área do acesso livre à net. Não deixa de ser importante o esforço que o Aveiro Digital e o POSI fizeram para dotar todos os concelhos com internet. Mas foi um esforço tardio, pois já devíamos estar a arrancar com parques wireless ao ar livre como aquele que existe em Aveiro no parque da Fonte Nova. Mas parques wireless é algo que ainda não entrou no nosso vocabulário local e não sei quando vai entrar. O Portugal sem fios tem avançado devagar. Começou nas universidades e agora começa a chegar devagar ao cidadão comum. Era bom que a AMRia pensasse também nisso e que brevemente fosse possível ter wireless gratuito nas bibliotecas municipais e mesmo em parques ao ar livre. Aqui fica a ideia para Estarreja. Wireless em toda a biblioteca e um futuro parque wireless ao ar livre no centro Ciência Viva Egas Moniz. E já agora outro em Fermelã também fazia jeito.
 
posted by Jose Matos at 23:27
quarta-feira, agosto 04, 2004
Em resposta ao post sobre os fogos, o Vladimiro Jorge lança mais umas achas para a fogueira sobre os Canadairs e despesas militares. O que é importante perceber em toda esta questão é que uma coisa não tem nada a ver com outra. O país pode ter submarinos como também pode ter Canadairs. A Grécia tem 8 submarinos na sua Marinha e encomendou mais 4 há tempos e isso não impede que tenha Canadairs. E é um país pobre como o nosso. Portanto, não vale a pena dizer que em vez de comprar submarinos devemos comprar Canadairs. Faz-me lembrar aquela conversa pacifista do tipo: uma fragata dá para fazer um hospital, um avião de combate uma escola e etc...

 
posted by Jose Matos at 21:42
Silêncio da morte, perfeito
como uma flor e seu cálice.
Nudez de céu de ponta a ponta
azul sem mácula.
Neve por toda a eternidade
consumada nos píncaros.
Silêncio da morte, campo
de ópio. Adormecedor
balanço entre margens.
Anjos que se debruçam e alçam,
confundindo-se com os turíbulos.
Contemplação beatífica
de ciprestes. Gozo
do vácuo.
Silêncio da morte, pavor
das furnas. Trágica escassez
de cinzas. Fera
de olhos oblíquos espreitando
a ampulheta.
Impossível recuo. Tempo máximo.
Salto de corpo ao mar,
urgente, urgente mar
sobre a presa, fechando-se.

Henriqueta Lisboa in "Flor da Morte"
 
posted by Jose Matos at 21:18