quinta-feira, agosto 31, 2006
Mais um blogue em Canelas. É curiosa esta tendência blogosférica aqui ao lado. Mas o difícil não é criar um blogue. O difícil é resistir.
 
posted by Jose Matos at 16:57
A recente denúncia no Notícias da Aldeia sobre o que se passa em terrenos de Canelas é um bom exemplo de como as micro-causas podem ser úteis nos blogues.

Já agora sobre o uso de dejectos de fossas para estrumar os campos é habitual por estas paragens. Se é bom ou mau não tenho ainda informação para avaliar?
 
posted by Jose Matos at 15:00
Um livro a ler com atenção de Pedro Almeida Vieira sobre os incêndios em Portugal. O livro foi lançado este Verão e mostra que um quinto da nossa floresta despareceu nos últimos 10 anos. Já está nas livrarias.


 
posted by Jose Matos at 14:43
quarta-feira, agosto 30, 2006
Amanhã é o dia do blogue. Enfim há sempre um dia para tudo.
 
posted by Jose Matos at 17:19
O blogue do Rui Jorge Lima.
 
posted by Jose Matos at 16:45
Andar num país diferente e não perceber a língua. Não perceber nada à nossa volta, nem uma única palavra, nem um único som. Mas mesmo assim andar como se nada fosse. E respirar como se estivéssemos em casa, como se tudo fosse familiar. Talvez por ser Europa ainda.
 
posted by Jose Matos at 16:42
segunda-feira, agosto 28, 2006
Quando Agosto caminha para o fim fico sempre triste, pois fica a saudade dos dias de Verão. Dos dias luminosos e quentes. E fica também a espera do Outono, dos dias tristes e frios. Mas o que fazer, quando tudo é inevitável?
 
posted by Jose Matos at 16:38
domingo, agosto 27, 2006
Há quem ache um exagero a quantidade de centrais eólicas que actualmente existem em Portugal, mas na Alemanha são comuns. Espalhadas pelos campos saltam à vista na paisagem, mas são um sinal claro de que lá as energias renováveis são de facto aproveitadas e exploradas. A densidade de ventoinhas é elevada, mas, mesmo assim, não acho que estejam em demasia. Até gosto de as ver. Acho que ficam bem no meio dos campos. Talvez pela extensão dos próprios campos que as tornam mais pequeninas.

 
posted by Jose Matos at 23:03
sexta-feira, agosto 25, 2006
Como todas as televisões tem os seus altos e baixos. Mas para quem vive no estrangeiro é realmente um elo importante de ligação a Portugal. Pelo menos à hora das notícias lá estava eu sempre a ver e a ouvir o que se passava no nosso pobre e distante Portugal. Mas depois mudava para a CNN ou para a SkyNews (que vejo pouco em Portugal) e lá estava entretido a ver as novidades da guerra. Aí sim aprende-se alguma coisa.
 
posted by Jose Matos at 12:48
quinta-feira, agosto 24, 2006
Há uma coisa que me cansa na política local. É que andamos sempre a discutir os mesmos assuntos estafados. Pouco se aprende com a discussão. É como se nunca tivesse existido. Por isso é que já não me apetece falar. Para quê? Se depois é como se nunca tivesse dito nada?
 
posted by Jose Matos at 17:16
Não há terra que não tenha uma ou mesmo mais. São imponentes e transpiram modernidade ao contrário das nossas, que têm todos os sinais do nosso atraso ancestral. Em Werl existe uma que é um santuário mariano bem conhecido dos portugueses. Em Maio costumam fazer aqui uma peregrinação anual. E lá matam saudade da mãe de Cristo sempre presente no imaginário desta gente longe de casa. Mas o catolicismo aqui não é a religião dominante. Os protestantes dominam e, por isso, acontece muitas vezes termos cidades com duas igrejas, uma católica e outra protestante. Afinal estamos no país do Lutero. Mas curiosamente também estamos na terra do papa.

 
posted by Jose Matos at 15:16
quarta-feira, agosto 23, 2006
Um mapa on-line de Unna em formato PDF que permite viajar pela cidade explorando vários locais. Não conheço nenhuma página de uma cidade portuguesa que tenha uma funcionalidade deste género.
 
posted by Jose Matos at 15:18
terça-feira, agosto 22, 2006
São o nosso orgulho, mas na Alemanha são uma raridade. Pelo menos nos moldes dos nossos. Só em Oberhausen é que é possível encontrar um complexo comercial enorme com um centro comercial a fazer lembrar os nossos. De resto não se encontram grandes centros comerciais como aqueles que vemos cá. Mas diga-se de passagem que também não são precisos. Em Unna há uma coisa que é o Zurbrueggen. Passamos por lá e aquilo é enorme. Os produtos estão concentrados de tal forma que ultrapassam qualquer loja das nossas. Há tanta coisa em exposição que ficamos cansados de tanto ver. Coisas que nunca vi à venda em Portugal. E é aqui que sentimos a inutilidade dos nossos centros comerciais. É que podem ser enormes, mas não têm metade do que encontramos ali. E a razão é simples: é que os nossos centros comerciais possuem uma grande dispersão de pequenas lojas, coisa que não acontece ali.


 
posted by Jose Matos at 17:50
segunda-feira, agosto 21, 2006
O Bioria está a participar este ano no Biologia no Verão. Neste âmbito estão previstas várias visitas ao esteiro de Salreu. Quem quiser pode inscrever-se aqui.
 
posted by Jose Matos at 14:10
Mais uma vez mudei o template. Espero que gostem do novo visual. Acho que encontrei finalmente o template certo para este espaço.
 
posted by Jose Matos at 12:11
Não está entre as grandes cidades alemãs, mas tem uma dimensão considerável. O centro é densamente urbano, mas a periferia tem um parque imenso arborizado que começa perto do estádio de futebol da cidade e que se estende ao longo de alguns quilómetros. Depois na parte urbana, o que salta mais à vista é a zona comercial com uma rua imensa recheada de lojas. Há também alguns museus e a biblioteca municipal que é uma obra de arquitectura bastante interessante. Há na zona comercial da cidade duas livrarias interessantes, uma situada num edifício histórico (o Krueger) e outra num prédio mais recente. São livrarias de 3 pisos, mas uma delas (a mais recente) ultrapassa qualquer livraria portuguesa em espaço. É uma coisa enorme bastante arejada e com quase tudo o que interessa, mesmo alguma literatura inglesa. Talvez um dia tenhamos alguma coisa de parecido em Portugal, mas para quem acha que a Fnac ou a Bertrand são grandes livrarias tem que passar por lá para ver o que é uma livraria a sério.
 
posted by Jose Matos at 11:33
quinta-feira, agosto 17, 2006
Amanhã em Estarreja Astronomia no Verão.
 
posted by Jose Matos at 16:16
Os espaços verdes. É aquilo que salta mais à vista. São uma presença densa em todos os cantos. Nas casas há mesmo uma obsessão com os jardins. Estão por todo o lado. Dão obviamente um ar verde às casas e às ruas e uma sensação de natureza. Mas há também os parques. Grandes parques impensáveis em Portugal. E todo este verde dá uma certa tranquilidade à cidade, um certo ar bucólico, como se não estivéssemos numa cidade. Há uma conjunção perfeita entre espaço urbano e natural. E isto já é assim há muito tempo. Não é nenhuma invenção recente na Alemanha. Há outras cidades assim. Mesmo grandes cidades como Estugarda, onde o verde atinge dimensões consideráveis. Portanto, aqueles que não têm uma casa com jardim têm os parques. Ou seja, há sempre um pouco de verde para todos.

 
posted by Jose Matos at 15:56
quarta-feira, agosto 16, 2006
Não vi pobres em Unna a mendigar (vi em Munster). Mas vi pequenos grupos de gente desempregada que passa o dia na rua a beber cerveja e a ver quem passa. Auferem de uma espécie de rendimento social, ou seja, são subsidiados para não fazer nada. Calculo que uma boa parte desta gente tenha problemas com o álcool ou mesmo com estupefacientes, mas em relação ao álcool é notória uma certa dependência. Há gente nova nestes grupos, que já desenvolveu hábitos de preguiça e que não sente vontade nenhuma de trabalhar. E o facto de andarem pela cidade exibindo a preguiça não é obviamente bom exemplo para ninguém. Ou seja, quem os vê pensa nos impostos que paga para manter esta gente. Não sei se os alemães se chateiam muito com isso ou não, mas os portugueses que vivem lá detestam o exemplo.
 
posted by Jose Matos at 19:43
segunda-feira, agosto 14, 2006
Há tempos escrevi sobre o Hezbolah:

“Vai sair a ganhar desta guerra. Não só porque mostra ser a única força no Líbano capaz de fazer frente aos israelitas (e isso dá-lhe apoio), como também não vai ceder às exigências israelitas de libertação dos soldados raptados”.

É isso que temos hoje. Não devolveu os soldados raptados e surge como a única força capaz de fazer frente aos israelitas. E já disse que a questão do desarmamento do próprio Hezbolah é uma questão interna do Líbano e não um problema internacional. Ou seja, já disse que só vai desarmar quando bem entender e não quando a ONU mandar. Daí que 1 mês de guerra pouca coisa resolveu a não ser mostrar aos árabes que Israel responde em força quando é provocado. Mas isso já toda a gente sabia.
 
posted by Jose Matos at 16:18
sexta-feira, agosto 11, 2006
Em Julho a caminho de Unna passei por Colónia. É uma cidade impressionante com o Reno a cortá-la. É a cidade mais antiga da Alemanha do tempo de Agripina e de Cláudio. A catedral tem uma imponência considerável. As torres esguias parecem querer cortar o céu. Bem perto fica a estação de comboios e o Museu Germânico-Romano. Mas o Reno dá uma certa aura marítima à cidade. Num dia de calor, Colónia está cheia de gente à beira-rio. Gente das mais variadas origens. Passeiam a pé e de bicicleta. Pelo rio observam-se os cruzeiros que passeiam os turistas. Talvez estranhem o calor de Julho. Talvez não estejam habituados a estas vagas quentes. Mas do outro lado do Reno vê-se a margem direita que os coloneses chamam o lado errado. É o lado velho da cidade, mas com boa vista para o lado novo. Não tive tempo para conhecer nada. Mas fiquei com a cidade debaixo de olho. Gostava de lá voltar um dia.

 
posted by Jose Matos at 22:39
quinta-feira, agosto 10, 2006
Existem muitas históricas fantásticas sobre a construção das pirâmides do Egipto. Joyce Tyldesley explica neste livro como é que na verdade estes monumentos foram erguidos. Vale a pena ler, pois há muita fantasia à volta deste tema e a autora ataca isso.

 
posted by Jose Matos at 19:43
Um site que tenta manter um diário da guerra do Líbano. Os autores são isrealitas.
 
posted by Jose Matos at 17:58
quarta-feira, agosto 09, 2006
Mais do que nunca a ASAE tem tido uma actividade de inspecção positiva. E mais do que nunca as pessoas devem queixar-se quando não são bem servidas.
 
posted by Jose Matos at 17:47
Ouvi e compreendi. Isto aqui pode ser bom, mas não há nada como o nosso Portugal, dizia-me uma emigrante que vive na Alemanha há 30 anos. Compreendi porque só quem não conhece a Alemanha na sua totalidade pode dizer uma coisa destas. Muita desta gente mais velha passou uma vida de trabalho e de sacrifícios. Uma vida de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Uma vida fechada na geografia local. Portanto, não admira que não exista nada como o nosso Portugal. Mas mesmo no nosso Portugal é gente que conhece pouco. Conhece as festas e as romarias de Verão. Conhece o caminho para Fátima, mas pouco mais. Portanto, não admira que nada chegue ao nosso Portugal. Mas a diferença é grande como se pode ver pela imagem.

 
posted by Jose Matos at 17:39
terça-feira, agosto 08, 2006
A biblioteca local. Uma antiga fábrica de cerveja transformada em centro cultural. É uma biblioteca simpática com 3 pisos e bem organizada. Tudo em alemão. Praticamente não tem nada em inglês ou noutra língua qualquer. As funcionárias também só sabem alemão, uma característica comum. Pouca gente sabe falar inglês. Num país onde se traduz tudo para alemão desde livros até filmes é natural que o inglês não seja habitual, mesmo que se aprenda na escola. A cidade não tem muitas livrarias. Encontrei apenas três, uma especializada nos grandes clássicos ingleses e praticamente só com livros ingleses, as outras duas com tudo em alemão. Mas as duas livrarias alemãs são espaços interessantes com 3 pisos e com uma boa selecção de livros. As novidades estão lá todas. É claro tudo em alemão.
 
posted by Jose Matos at 20:12
segunda-feira, agosto 07, 2006
Unna. É uma cidade antiga (não muito longe de Dortmund) do tempo do Império de Carlos Magno. Tem uma longa história ligada à exploração de sal de gema e ao fabrico de cerveja. Tem à volta de 80 quilómetros quadrados e 68 mil habitantes. Mas 80% da área adstrita à cidade são espaços verdes, campos e floresta. Portanto, é uma cidade rodeada de agricultura. Não pequena agricultura como a nossa, mas sim agricultura de larga escala. Mas o que é curioso é que o espaço rural não tem apenas a valência agrícola. É também um espaço de passeio com caminhos acessíveis e ordenados. Não foge muito ao que se vê noutros sítios da Alemanha, onde os campos possuem uma ordenação de fazer inveja a um país pobre e atrasado como o nosso. Também se vê o mesmo na França e na Bélgica, onde o espaço rural é bem organizado. Não admira que se estude para ser agricultor. Não admira que seja uma agricultura a anos-luz da nossa. O burro da imagem não é agrícola, mas sim do transporte de sal.

 
posted by Jose Matos at 21:20
quinta-feira, agosto 03, 2006
Ao longo dos dias em que estive fora fui acompanhado a guerra que decorre na fronteira do Líbano. Fui vendo a destruição, a morte, a dor, o ódio que se alastra de parte a parte. Fui ouvindo as declarações de boas intenções da comunidade internacional. E fui ordenando umas ideias. E fui avivando a memória do passado. E lembrei-me que já vi este filme várias vezes e que será difícil não voltar a vê-lo no futuro. Mas vamos às ideias.

O começo

Depois de tantos dias de guerra há tendência para esquecer quem começou esta guerra com uma provocação perfeitamente despropositada. E quem começou esta guerra foi o Hezbolah ao atacar em território israelita um grupo de soldados israelitas matando e raptando dois deles. Uma das perguntas que não têm sido feita ao longo desta guerra é porque razão o Hezbolah fez este ataque? Fê-lo apenas como rotina de ataque a Israel ou tinha outra intenção por trás? Fê-lo para ter uma moeda de troca por prisioneiros árabes presos em Israel ou fê-lo visando outro tipo de objectivos? Fê-lo por conta própria ou mando do Irão ou da Síria? As intenções do Hezbolah a este nível não são muito claras, embora diga que quer trocar os soldados israelitas por combatentes árabes, não sabemos ao certo se é só isso que está por trás do rapto?

Também não sabemos se o Hezbolah estava à espera de um resposta israelita desta dimensão ou se de facto calculou que isto ia acontecer. Fazendo um paralelo com aquilo que aconteceu na faixa de Gaza em Junho com o rapto de um outro soldado era de esperar que Israel reagisse em força no sul do Líbano. Portanto, não é de todo irrealista imaginar que o Hezbolah já estava à espera de um resposta dura por parte de Israel e que estava preparado para o que aí vinha.

A resposta

Também é difícil imaginar que outra resposta diferente Israel podia ter dado a uma provocação destas. Podia obviamente ter optado por uma resposta mais suave fazendo como muitas vezes fez no passado, ou seja, bombardeando de forma localizada e depois optando por um caminho negocial que levasse à troca dos soldados por prisioneiros islâmicos. Já o fez nos últimos anos e podia fazê-lo de novo. Mas se o fizesse também dava um sinal de fraqueza ao Hezbolah que no futuro teria novamente a tentação de voltar a raptar soldados para atingir os seus objectivos. Por outro lado, todas as trocas de soldados no passado foram sempre muito desvantajosas para Israel. Por isso, Israel também estava nesta crise perante um dilema difícil. Ou atacava em força como fez ou então dava um sinal dúbio ao tentar negociar a libertação dos soldados em troca de muita coisa. Optou pelo caminho da força como já tinha feito na faixa de Gaza, mas calculou mal a resistência e a resposta do Hezbolah e entrou num caminho que não é seguro que traga uma solução satisfatória a prazo para o estado hebraico. Além disso, não tem conseguido gerir bem o uso do poder aéreo que tem obviamente limitações quando lida com forças que usam zonas civis para disparar mísseis ou para esconder armas. As mortes de gente inocente no Líbano mostram que os limites do poder aéreo não têm sido bem geridos e que as informações recolhidas para os ataques nem sempre são fiáveis. Este tipo de problemas é comum em campanhas aéreas e já aconteceu noutras guerras como no Afeganistão ou no Kosovo. Mas no caso israelita, os erros têm repercussões políticas enormes, daí que todo o cuidado é pouco.

O objectivo de Israel é mudar a situação na fronteira do Líbano, ou seja, impedir que o Hezbolah faça ataques contra Israel seja com mísseis seja em acções terrestres. Ora este é um objectivo difícil de alcançar, pois mesmo com uma faixa de segurança de 20 km é óbvio que o Hezbolah poderá ter mísseis com maior alcance que os Katyucha que poderão sempre atingir o norte de Israel, que actualmente é já uma zona despovoada devido à ameaça constante dos Katyucha. Depois em relação aos soldados raptados nunca serão libertados sem nada em troca. Portanto, Israel não terá no fim da guerra alterado grande coisa na fronteira norte, a não ser a criação da faixa de segurança e uma cessação temporária dos ataques do Hezbolah. É claro que a acção israelita não visa uma permanência a longo prazo das tropas israelitas na zona tampão. Israel já teve uma má experiência a esse nível no passado e sabe que se permanecer muito tempo no sul do Líbano vai ter uma guerra de desgaste permanente com o Hezbolah. Portanto, não admira que esteja interessado numa presença futura de tropas internacionais. Mas essa é também uma solução complexa, pois não sabemos ainda que força será essa, que competência terá e será capaz de conter o Hezbolah? Diria mesmo que este último aspecto é dos mais importantes. A contenção do Hezbolah, dado que não me parece possível o seu desarmamento a breve prazo.

A guerra

Como todas as guerras só traz destruição, dor e morte. A morte, o sofrimento, o desmantelamento do que temos é isso que vemos todos os dias. Seja do lado do Israel seja no Líbano. É claro que a dimensão da destruição é completamente diferente de um lado ou do outro, mas em ambos os casos vemos gente a sofrer e vidas completamente arrasadas. Por isso, custa ver o prolongamento da guerra, a destruição quotidiana de cidades. Em Israel vemos claramente a diferença entre militares e civis, mas no Líbano essa diferença é mais ténue. É que o Hezbolah também é o povo. Há armas escondidas em casas particulares, há o uso da infra-estrutura civil com fins militares. Mas também há gente inocente que perde tudo de um momento para o outro. Nem tudo é o Hezbolah. E isso Israel nem sempre tem conseguido distinguir. Têm ocorrido erros graves para uma força que usa da mais avançada tecnologia do mundo para atacar e recolher informações. E esses erros podiam ser minimizados com uma gestão mais criteriosa dos alvos e da informação disponível. É óbvio que do ponto de vista militar estes erros ocorrem sempre, mas são mais prováveis numa guerra em que os alvos possuem um forte espectro civil. E por isso o cuidado deve ser maior, o que parece que não tem acontecido. Depois a campanha de devastação que Israel tem exercido por todo o Líbano vai deixar o país num estado lastimoso.

O Líbano

Como sempre está no caminho da guerra. Há 30 anos que não conhece outro destino. Sempre foi um estado frágil que nunca conseguiu exercer a sua soberania em todo o território nem fazer frente aos seus vizinhos poderosos. Hoje continua na encruzilhada. Nada pode fazer contra Israel, nem contra o Hezbolah. Aliás, as acusações frequentes por parte de Israel de que o Líbano nunca foi capaz de desarmar o Hezbolah são irónicas, pois se nem próprios israelitas conseguiram dominar o movimento islâmico como é que o Líbano ia fazer isso?


O Hezbolah

Há muito tempo que é um estado dentro de outro estado. Vai sair a ganhar desta guerra. Não só porque mostra ser a única força no Líbano capaz de fazer frente aos israelitas (e isso dá-lhe apoio), como também não vai ceder às exigências israelitas de libertação dos soldados raptados. Mostrou também uma capacidade de resistência e de ataque acima das expectativas. Além de grupo religioso e político com influência no Líbano tem hoje uma força armada poderosa capaz de atacar Israel e de lhe fazer frente. Como grupo islâmico radical visa obviamente a destruição do estado de Israel, mas se um dia ficar isolado em termos de apoios e de contexto político na região poderá ser obrigado a mudar de discurso ou pelo menos a desarmar. Mas até lá não mudará muito a sua linha de acção, nem abdicará da componente armada enquanto a situação política na região não mudar. Portanto, vai continuar a ser um problema para Israel, para o próprio Líbano e para a estabilidade da região.

A Síria

É a chave para a contenção e desarmamento do Hezbolah. Enquanto quiser e o desejar o Hezbolah terá força no Líbano. As razões porque a Síria apoia o Hezbolah são completamente diferentes das razões do Irão. No caso iraniano há uma afinidade religiosa e um inimigo comum. No caso sírio há um inimigo comum e o interesse em ter um aliado no Líbano. Mas a Síria encara o estado hebraico como inimigo por razões diferentes do Irão ou do Hezbolah. Para a Síria o problema com o Israel está na ocupação dos Montes Golã. Não está na existência por si do estado hebraico. Ora todo o processo político actual tem marginalizado a Síria. Por isso, as soluções de paz que possam ser estabelecidas neste momento serão sempre muito frágeis, caso a Síria continue a ser ignorada.

Israel

Tem tido um problema grave de liderança política desde a morte de Rabin. Nenhum governo israelita tem conseguido levar a um bom termo um roteiro de paz que estabilize toda a região. É claro que a culpa não é só de Israel. Os árabes também não ajudam muito. Mas Israel é um país muito fragmentado politicamente e qualquer partido com maioria parlamentar precisa de fazer alianças para governar. E essas alianças são sempre fragmentárias em termos de interesses e isso torna difícil os sucessivos governos tomarem decisões corajosas que quebrem medos e inseguranças e permitam dar passos em frente. Por outro lado, os líderes políticos israelitas desconfiam profundamente dos árabes e lidam sempre com muita cautela quando se trata de obter acordos. Afinal estão cercados de inimigos e habituados a um estado permanente de guerra. Na verdade, estão mais habituados a usar força do que a diplomacia. Depois são líderes eleitos que gostam obviamente de ganhar eleições e que precisam de sentir apoio eleitoral para tomarem decisões difíceis. Portanto, tudo isto dificulta a obtenção de soluções que estabilizem toda a região. Sharon conseguiu, no entanto, dar um pequeno passo ao sair de Gaza, mas não teve hipótese de fazer mais nada. Mas Israel vai sair a perder desta guerra. Vai continuar a ter um inimigo poderoso a norte apesar de toda a força que está a usar. E vai ter também que dar muita coisa em troca para ter de volta os soldados raptados.

O futuro?

É óbvio que este é daqueles conflitos que só se resolve com um acordo geral de paz, que envolva uma solução definitiva para o problema palestiniano e também uma solução definitiva com a Síria. É óbvio que isso também não é possível no momento actual, mas é bom que se caminhe nesse sentido senão nunca mais teremos paz na região. A situação actual terá que acabar num cessar-fogo e no reconhecimento que muita coisa tem que mudar na região para não voltarmos a cair nisto a médio prazo. Mas não é obviamente possível esperar que um cessar-fogo mude muita coisa a breve prazo. A situação vai continuar tensa por tempo indeterminado.

O Hezbolah é apoiado pela Síria e pelo Irão. Será praticamente imposssível mudar a posição do Irão em relação a Israel, mas com a Síria o caso é diferente. A Síria tem obviamente interesse em resolver os problemas que tem com Israel e se esses problemas fossem resolvidos a situação no Líbano podia mudar e o Hezbolah podia ser desarmado. Enquanto a Síria não for envolvida no processo, o Hezbolah continuará a ter apoio para fazer o que bem entender e para continuar armado.

Por outro lado, o problema palestiniano também carece de uma solução definitiva que passe pela criação de um estado palestiniano livre e democrático constituído pela faixa de Gaza e pela Cijordânia. É claro que a presença do Hamas no actual governo não facilita o processo e cria dificuldades enormes a Israel que não negoceia com terroristas. Mas há passos que têm que ser dados por ambas partes.

O primeiro é acabar com o clima de hostilidade. O Hamas tem que parar com acções ofensivas contra Israel e vice-versa. Depois o Hamas que tem que reconhecer a existência de Israel como estado de pleno direito e renunciar definitivamente ao terrorismo. Se isto acontecer nos próximos tempos será positivo no sentido da paz. E soluções como a retirada unilateral que foi feita em Gaza mostram que a prazo não resolvem o problema palestiniano.
 
posted by Jose Matos at 01:26
Nunca tinha estado na Alemanha, mas este ano arrisquei a viagem. Achei interessante apontar aqui o que vi e ouvi. É sempre uma experiência nova para quem não conhece. Estive em poucas cidades e portanto a visão é limitada pela geografia. Mas nos próximos tempos vou deixar aqui algumas impressões que colhi por lá. Conto assim deixar todos os dias neste espaço uma recordação da viagem.
 
posted by Jose Matos at 01:18