terça-feira, novembro 30, 2004
Estamos em crise. É uma crise passageira é certo, pois é inconcebível que se dissolva o parlamento em pleno processo de aprovação do Orçamento do Estado, mas não deixa de ser uma crise. Há quem ponha as culpas em Santana Lopes, mas a verdade é que a culpa não é só dele.

Esta longa novela começou com a saída de Durão Barroso para a Comissão Europeia. Durão Barroso nunca devia ter aceitado tal cargo. Tinha um compromisso com o país e também com o partido. Foi nele que votei para que chegasse a primeiro-ministro. Em certa parte traiu a nossa confiança e deixou o partido e o governo em crise. O Presidente fez na altura o que devia fazer. Perguntou ao PSD se achava que tinha condições para continuar a governar com estabilidade. O PSD disse que sim, quando devia ter dito que não. Mas disse que sim porque lhe interessava continuar no poder. Disse que sim porque achava uma injustiça que depois de dois anos de governo em situação económica difícil viesse agora o PS colher os louros. Disse que sim porque achava que perdia as eleições caso o Presidente dissolvesse o Parlamento. Porque se achasse que as ganhava se calhar teria dito que não. Mas lá disse que sim contrariado na esperança de que Santana Lopes fosse melhor do que aquilo que parecia ser. Mas quando começaram ver que o primeiro-ministro não era tão bom como parecia, que o PP estava safar-se melhor no governo do que o PSD e que o PS aparecia à frente nas sondagens, começaram a ficar preocupados e começaram a puxar o tapete a Santana Lopes. É natural que o primeiro-ministro esteja chateado com tudo isto, afinal a oposição não vem do PS, mas do próprio PSD. Mas é pena que isto seja assim. Santana Lopes não estava obviamente preparado para assumir o cargo que assumiu. Mas pelo menos teve coragem e segurou o partido num momento de crise. É certo que uma parte da culpa nesta crise é dele e da sua impreparação para governar. Mas também é certo que uma outra parte é do PSD que não tem sabido ajudar este homem a governar melhor.

Quanto a Henrique Chaves pouco há a dizer. Parece que foi um ministro que andou mais ocupado no tiro aos pombos do que em governar. O barulho que provocou ao sair do governo é típico dos caçadores que dão muitos tiros, mas que nunca acertam em nada.
 
posted by Jose Matos at 13:07
Há pouco mais de um mês, na Assembleia da República, José Sócrates acusava Santana Lopes de querer fazer gelo quente, coisa que na opinião de Sócrates era impossível. Santana engoliu em seco e como percebe pouco de astronomia ou de física deve ter achado que a afirmação não tinha contestação possível. Calculo que o termo tenha sido inventado por algum criativo do PS em momento de inspiração e que depois tenha sido soprado no discurso de Sócrates. É certo que a frase teve o efeito desejado, ou seja, passou para a opinião pública através da comunicação social como sendo realmente algo impossível de conceber. O que é espantoso é que durante este tempo todo ninguém a tenha posto em causa, pois qualquer físico ou astrónomo sabe que a existência de gelo quente é perfeitamente possível em condições de pressão elevada. Quer isto dizer que é perfeitamente plausível existir gelo quente em certas condições como aquelas que imaginamos em alguns planetas extra-solares, onde o gelo pode estar nas camadas mais internas de planetas gelados, mas a grandes temperaturas devido a correntes de calor que brotam do núcleo desses planetas. Submetido a enormes pressões este gelo, no entanto, não derrete e permanece no estado sólido. Podemos mesmo ter uma situação um pouco parecida em Europa, uma das luas de Júpiter, que pode ter gelo morno em camadas debaixo da superfície. Portanto, o primeiro-ministro não inventaria nada de novo caso quisesse fazer gelo quente. De certeza que deve haver muito noutros sítios da galáxia. No entanto, o criativo do PS pensou que estava a inventar uma grande coisa, assim como José Sócrates. Mas curiosamente estava apenas a falar de uma coisa que já existe na natureza extrema de outros mundos. Mas neste momento de crise escolher entre o homem que quer fazer gelo quente e o outro que diz que é impossível fazer tal coisa, é difícil senão mesmo impossível. Pois tanto um como outro não estão preparados para governar.
 
posted by Jose Matos at 11:28
segunda-feira, novembro 29, 2004
O artigo que saiu este fim-de-semana no Expresso, onde Cavaco Silva diz que «é chegado o momento de os políticos competentes afastarem os incompetentes» é curioso e dá sinais que o ex-primeiro-ministro quer regressar à política. Mas para quem já teve as responsabilidades que ele teve apetece perguntar porque razão no tempo dele também não afastou os incompetentes que tinha no governo ou no partido? É que este problema dos incompetentes é já muito antigo e também existia no tempo dele. Como também existia no tempo de Guterres e se bem me lembro nunca Cavaco Silva disse uma palavra a esse respeito na altura? Parece que só agora acordou para o problema. Ou só agora lhe apeteceu falar. Ou então o recado é destinado a Santana Lopes?
 
posted by Jose Matos at 17:00
A chegada de Jerónimo de Sousa a secretário-geral do PCP tem o seu quê de novidade na política portuguesa. Nunca um operário chegou a um lugar tão destacado num partido como Jerónimo de Sousa. Num país em que a política está povoada de doutores e engenheiros, ver um ex-metalúrgico à frente de um partido é algo que merece ser registrado. É claro que Jerónimo de Sousa tem uma experiência política vasta pouco típica em qualquer operário deste país, mas não deixa de ser curioso vê-lo no lugar em que está. Há mesmo quem tenha visto nisso uma espécie de ascensão absurda. Afinal o homem não tem estudos superiores. Mas esta forma de pensar mostra bem o quanto somos atrasados neste país, onde quem não tem um curso é logo considerado inapto para altas funções. Só é pena que a sua ascensão a secretário-geral traga pouco de novo para o PCP. Um partido enrolado sobre si próprio, com tiques de ser o fulcro do mundo comunista, com saudades de ideologias ultrapassadas, agarrado à história como se o passado fosse o futuro. Continuará a degradar-se, a perder eleitores e militância e um dia será apenas uma sombra senão mudar entretanto.
 
posted by Jose Matos at 14:39
Houve gente que ficou surpreendida por Santana Lopes não ter dito uma única palavra a respeito do IC1 na sua recente visita à Quimigal. E a minha pergunta é esta: o que poderia o primeiro-ministro dizer a respeito de um defunto? De uma coisa que está mais que morta e enterrada? Fique por isso espantado ao ver a surpresa das pessoas. Não percebo como é que estavam à espera de ouvir uma declaração sobre o assunto. Já aqui disse que um dia quando o assunto estiver mais esquecido alguém do governo dirá que o IC1 está morto e que a solução para o problema entre Estarreja e Angeja passa pelo alargamento da A1. E talvez com um bocado de sorte digam que vamos ter portagens à borla nesse bocadinho da auto-estrada. Talvez, porque até aí tenho dúvidas.
 
posted by Jose Matos at 14:37
segunda-feira, novembro 22, 2004

Quem não se lembra desta mítica série que passou na RTP nos anos 80 e que conta a história de 3 jovens heróis especialistas em artes marciais que queriam derrubar a Dinastia Ching? Pois, os nossos jovens heróis foram agora lançados em DVD. É estranho vê-los agora tanto tempo depois. Mas está lá tudo. Luta, intriga, paixão, humor, o bem contra o mal. E um pedaço da infância que ficou para trás suspenso nas lutas de Kung Fu.

 
posted by Jose Matos at 19:35
domingo, novembro 21, 2004
Devo confessar que estava à espera que o PS anunciasse por estes dias o seu novo candidato à câmara. Parece que só o vai fazer lá para Janeiro. Compreendo que assim seja e acho mesmo natural. Penso também que terminou toda esta novela à volta do candidato Vladimiro Silva. A candidatura de Vladimiro Silva foi desde o início um equívoco extemporâneo motivado pela teimosia do candidato em querer ter novamente um papel político relevante e pela falta de alternativas dentro do PS. Já em tempos disse aqui que Vladimiro Silva depois da derrota eleitoral devia ter-se afastado da vida política local. Há uma coisa a que se chama travessia do deserto e Vladimiro Silva não retirou consequências do resultado de 2001. Em vez disso, insistiu na sua permanência na sua visibilidade política com medo de ser esquecido ou de se reformar tão cedo. Foi o primeiro erro que cometeu. Mas pior foi a ideia fixa em querer ser novamente candidato. Como escrevi na altura estava a prestar um serviço ao PS, mas também estava a impor ao partido uma candidatura extemporânea. E o PS fez mal em ter aceitado, embora não tivesse mais ninguém para contrapor. A partir daí foi o desastre. Nunca pensei que um candidato sofresse um desgaste tão rápido. Tornou-se mesmo um candidato inoportuno. As intervenções nas assembleias, a raposa e as galinhas, a falta de uma estratégia de acção, a exaltação permanente, a extemporaneidade do costume, tudo o que fica mal num candidato a uma câmara. O PS demorou a perceber o erro cometido, mas depois de o ter percebido só podia tomar a atitude que tomou. Deixar andar seria bem pior. A desculpa do casino, não foi lá grande desculpa, mas tinham que arranjar um motivo qualquer. Como seria de esperar o candidato barafustou, disparou em todas as direcções, mas o que devia ter feito era afastar-se de tudo, nomeadamente da vereação. A vida não é só política e Vladimiro Silva tem concerteza uma vida para além da política. Não precisa concerteza da política para nada. Percebo que o PS não tenha coragem para lhe pedir a sua saída da vereação, mas se andar no casino é motivo para lhe retirar o apoio à câmara, também não é motivo para lhe retirar o apoio na vereação? Ou as idas ao casino só são incompatíveis com o lugar de candidato à câmara? Não é obviamente minha intenção remeter o homem ao esquecimento, mas acho que já cumpriu o seu dever na vida política local, que já deu o seu contributo. Sabermos sair de cena é uma arte.
 
posted by Jose Matos at 18:34
sexta-feira, novembro 19, 2004
A pergunta que foi escolhida pelos partidos para o referendo europeu dá que pensar : "Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?"

Como é que as pessoas vão responder a uma coisa destas? Como é que os portugueses podem estar esclarecidos em relação a um assunto tão complexo? Como é que os partidos aprovam uma pergunta destas?
 
posted by Jose Matos at 14:21
sexta-feira, novembro 12, 2004
Quem anda na 109 com frequência já deve ter percebido que não vai ser fácil encontrar uma alternativa à velha estrada. Há alguns sítios entre Fermelã e Canelas e Canelas e Salreu, onde esta estrada pode ser melhorada, mas fora destes dois locais é praticamente impossível haver melhorias. De referir também a actual obra da rotuda do Hospital que vai melhorar a estrada nessa área. Por isso, não estou a ver grandes soluções ao actual traçado a não ser uma variante externa às freguesias. E externa só pode ser a nascente.
 
posted by Jose Matos at 19:58
Hoje dei por mim a pensar na data em que Estarreja passou a ter luz eléctrica. Sei que a Murtosa foi em 1930 e, por isso, calculo que Estarreja tenha sido nos anos 20. Será que alguém sabe?
 
posted by Jose Matos at 19:48
quinta-feira, novembro 11, 2004
Embora seja um espaço aberto há vários meses, sei que muita gente ainda não conhece. Mas a Fábrica em Aveiro é um espaço a visitar, onde há muito para aprender. Construido na antiga Fábrica de Moagens de Aveiro (próximo da cadeia) é um centro de ciência aberto à população que qualquer um pode visitar. Lá dentro respira-se ciência. O edifício destaca-se na paisagem, pois trata-se de um edifício monumental na entrada Sul de Aveiro. Aqui fica a sugestão.
Fábrica Ciência Viva
http://www.fabrica.ua.pt/cienciaviva/
 
posted by Jose Matos at 13:51
Dizem que é o Verão de São Martinho, mas a mim parece-me mais uma anomalia fora de época. É que o bom tempo vai continuar por mais uma semana. É bom que assim seja. Devia mesmo vir uma vaga de calor. Mas sei que o que nos espera é mais frio. É o Inverno com o seu ar gélido. São os dias cinzentos depois desta generosa luz solar. É bom que fique na memória, pois tão depressa não voltaremos a ter tanto Sol como agora. Mas enquanto dura vai enchendo de luz os nossos dias, a nossa escuridão quotidiana. Alguém disse uma vez que nunca o poderemos encarar de frente, pois como a Verdade cega!
 
posted by Jose Matos at 13:23
Junto à cerca, os girassóis e seu brilho,
Doentes sentados ao sol, sem alento.
No campo, as mulheres cantam no trabalho,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.

Os pássaros contam lendas de encantar,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.
Há um violino no pátio a gemer.
E já o vinho escuro vão recolhendo.

Todos parecem felizes, libertos,
E já o vinho escuro vão recolhendo.
Os jazigos dos mortos estão abertos,
Pintados pelo sol que vai entrando.

Georg Trakl
 
posted by Jose Matos at 13:12
terça-feira, novembro 09, 2004
Em 1999, quando se discutia no Parlamento Europeu a questão do acordo de pescas com Marrocos, Paulo Portas disse o seguinte sobre a Política Comum de Pescas da UE.

Que a situação que se vislumbra no sector das pescas (caso não seja assinado o acordo com Marrocos) é um cenário de miséria para a frota de pesca portuguesa: os barcos portugueses vão deixar de pescar, os armadores vão pedir o abate das embarcações e o desemprego vai aumentar, ampliando-se deste modo o campo da pobreza! Chegou-se a uma situação em não se poderá pescar, nem se poderá trabalhar, em virtude de os interesses do país estarem subordinados à Política Comum das Pescas. Em seguida, considerou que a política da UE é particularmente lesiva para os países pesqueiros e os países do sul.

Portanto, o que o eurodeputado dizia na altura é que a Política Comum de Pescas era má para Portugal. Parece mesmo que a sua intenção era acabar com ela. Será que ainda pensa o mesmo? E o que diria agora sobre a pretensa entrega do nosso Mar à UE caso não fosse membro do governo? Será que o íamos ver juntamente com os pescadores a protestar contra a constituição europeia e a política de pescas? É estranho o seu silêncio.
 
posted by Jose Matos at 14:22
domingo, novembro 07, 2004
O Expresso traz este fim-de-semana em destaque uma notícia para ajudar a votar não no referendo para a Constituição Europeia. Diz o jornal que Portugal perdeu o direito ao mar por causa da Constituição Europeia. Diz mesmo que a Constituição Europeia retira a Portugal a soberania sobre a sua Zona Económica Exclusiva (ZEE). Ora isto é daquelas notícias que só servem para causar confusão.

Desde que aderimos à comunidade que as políticas de pescas de todos os países são definidas em conjunto. Ou seja, temos quotas de pesca que temos que cumprir. O mesmo acontece no leite ou outros produtos agrícolas. Portanto, esta notícia também podia ser: perdemos o direito às nossas vacas, pois não podemos produzir o leite que queremos. Portanto, o que se passou com a Constituição Europeia foi passar para o papel uma coisa que já era evidente. Portanto, Portugal continua a ter a sua ZEE, onde continua a exercer a sua soberania em termos de fiscalização, recursos minerais e pesquisa científica. E já agora esta regra é válida para todos os países da União Europeia. Portanto, a Espanha, a França, a Itália etc.. também estão na mesma situação e nenhum deles protestou. É que a notícia dá impressão que Portugal foi a única vítima do artigo constitucional.

O que os nossos pescadores deviam pensar é se estão à altura dos espanhóis em termos competitivos. É se conseguem meter o peixe no mercado ao mesmo preço que os espanhóis. Isso é que os devia preocupar. Na Agricultura não temos conseguido fazer isso, o que mostra que talvez os fundos comunitários que jorraram para a Agricultura e Pescas nos últimos 18 anos não tenham sido bem aproveitados para a nossa modernização e capacidade competitiva. Portanto, o ministro ontem tinha razão em avisar os pescadores. Preocupem-se é com a competição, não com a constituição.
 
posted by Jose Matos at 19:33
Como muitos portugueses vivo acima das minhas posses. Gasto o que tenho e o que não tenho. E quando fico aflito recorro a receitas extraordinárias. Sei que um dia, quando acabarem as receitas extraordinárias, estarei perdido e sem luz ao fundo do túnel. Mas até lá vou vivendo feliz. O governo do meu país faz o mesmo, mas um dia quando chegar à mesma situação o que fará?
 
posted by Jose Matos at 18:34
quinta-feira, novembro 04, 2004
A noite abriu um pouco. Depois da chuva é bom ter as estrelas de regresso. É bom sentir a sua presença de novo. Brilham como lágrimas de luz suspensas nas insondáveis profundezas do céu. Algumas terão planetas. Muitos inóspitos e terríveis, mas alguns de paisagens meigas e doces, de noites suaves e breves como as nossas. E nós vermes rastejantes perguntamos onde estão esses outros vermes diferentes de nós? Que pensarão eles dos nossos negros dramas? Das nossas ambições? Dos nossos egoísmos insaciáveis? Dos nossos orgulhos desmedidos? Das nossas tolices? Saberão eles o que isso é? Ser verme e ter a mania das grandezas?
 
posted by Jose Matos at 22:35
Estrela que desces sobre a verde colina,
Triste lágrima de prata no véu da noite.

Estrela, aonde vais tu, nessa noite imensa?

Procuras, acaso, um leito nos canaviais?
Ou, tão bela, à hora do silêncio, vais tu cair,
Como uma pérola, no seio profundo das águas?

Estrela de amor não desças dos Céus!

Muset
 
posted by Jose Matos at 22:09